Polegares opositores são frequentemente associados a vantagens evolutivas para os primatas. A destreza das mãos humanas, nesse sentido, permitiu a manipulação de ferramentas de forma altamente complexa. A formação destes membros está profundamente relacionada, aliás, a diversas revoluções cognitivas da nossa espécie.
Segundo uma pesquisa publicada no início de 2021, os polegares humanos mais ou menos como conhecemos hoje começaram a se formar há em torno de 2 milhões de anos. Para avaliar isso, pesquisadores criaram modelos biomecânicos dos músculos das nossas mãos e das mãos nossos parentes primatas.
A conclusão foi que nesse período, há 2 milhões de anos, nossos dedos passaram a ser mais curtos e com polegares mais fortes e ágeis. Não coincidentemente, pouco tempo depois, diversas espécies de hominídeos (mais antigos que o H. sapiens) passaram a utilizar ferramentas.
Além do mais, os polegares opositores mais resistentes podem ter tido relação com a transição dos primatas da vida nas árvores para a vida em terra firme. Isso porque dedos mais longos – e com polegares menores – ajudam macacos a se balançar e transportar segurando galhos. Os dedos compridos funcionam como um gancho.
Já no ambiente terrestre, a precisão das mãos humanas pode ter sido muito mais útil para fuçar por aí em busca de comida. Eventualmente alguns hominídeos aprenderam a lascar pedras e cortar madeira usando seus polegares musculosos.
A mudança significativa dos nossos membros, portanto, permitiu não só uma diferença morfológica, mas uma vantagem nutricional – como veremos a seguir.
Mãos humanas usadas para a caça e coleta
Digamos que a savana africana não é um ambiente confortável para hominídeos, mesmo que tenhamos nos originado lá. Isso porque a competição por recursos e a fuga de predadores era implacável no dia-a-dia pré-histórico. Estimativas mostram que os primeiros Homo sapiens (que eram caçadores-coletores) tinham uma expectativa de vida de pouco mais de 25 anos.
Mãos bem articuladas e rápidas permitiram aos nossos ancestrais não apenas criarem ferramentas, mas usarem-nas para conseguir mais alimento e defesa.
Com lanças, flechas, facas e machados, a linhagem dos hominídeos (que inclui os Homo sapiens dentre dezenas de outras espécies) pode aumentar significativamente seu consumo de nutrientes como proteínas e vitaminas.
Isso, por consequência, foi definitivo para o desenvolvimento de cérebros maiores e corpos mais musculosos que pudessem tolerar mais estresse.
Muito mais tarde na escala de tempo da evolução humana, as mãos humanas nos permitiram outras duas vantagens evolutivas que nos colocaram onde estamos hoje: a escrita e a agricultura.
A fala e a linguagem foram fatores determinantes para a formação da cultura e sociedade humana. Contudo, apenas com registros dessa linguagem os humanos puderam deixar legados intelectuais mais precisos a seus ancestrais. Para escrever em placas de argila ou em papiro, a delicadeza e precisão das mãos foi imprescindível.
Em certo momento da história, ademais, as tribos de caçadores-coletores começaram a se assentar e se tornaram sedentários. Isso porque nossa espécie aprendeu a domesticar e cultivar plantas para consumo. Novamente, as mãos permitiram aos primeiros fazendeiros plantar sementes e utilizar ferramentas para colheita e processamento de cereais.