As mãos humanas nos deram vantagens evolutivas incríveis

Mateus Marchetto
Imagem: GettyImages

Polegares opositores são frequentemente associados a vantagens evolutivas para os primatas. A destreza das mãos humanas, nesse sentido, permitiu a manipulação de ferramentas de forma altamente complexa. A formação destes membros está profundamente relacionada, aliás, a diversas revoluções cognitivas da nossa espécie.

Segundo uma pesquisa publicada no início de 2021, os polegares humanos mais ou menos como conhecemos hoje começaram a se formar há em torno de 2 milhões de anos. Para avaliar isso, pesquisadores criaram modelos biomecânicos dos músculos das nossas mãos e das mãos nossos parentes primatas.

A conclusão foi que nesse período, há 2 milhões de anos, nossos dedos passaram a ser mais curtos e com polegares mais fortes e ágeis. Não coincidentemente, pouco tempo depois, diversas espécies de hominídeos (mais antigos que o H. sapiens) passaram a utilizar ferramentas.

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Imagem: Katerina Harvati / Dr. Alexandros Karakostis / Dr. Daniel Haeufle

Além do mais, os polegares opositores mais resistentes podem ter tido relação com a transição dos primatas da vida nas árvores para a vida em terra firme. Isso porque dedos mais longos – e com polegares menores – ajudam macacos a se balançar e transportar segurando galhos. Os dedos compridos funcionam como um gancho.

Já no ambiente terrestre, a precisão das mãos humanas pode ter sido muito mais útil para fuçar por aí em busca de comida. Eventualmente alguns hominídeos aprenderam a lascar pedras e cortar madeira usando seus polegares musculosos.

A mudança significativa dos nossos membros, portanto, permitiu não só uma diferença morfológica, mas uma vantagem nutricional – como veremos a seguir.

Mãos humanas usadas para a caça e coleta

Digamos que a savana africana não é um ambiente confortável para hominídeos, mesmo que tenhamos nos originado lá. Isso porque a competição por recursos e a fuga de predadores era implacável no dia-a-dia pré-histórico. Estimativas mostram que os primeiros Homo sapiens (que eram caçadores-coletores) tinham uma expectativa de vida de pouco mais de 25 anos.

Mãos bem articuladas e rápidas permitiram aos nossos ancestrais não apenas criarem ferramentas, mas usarem-nas para conseguir mais alimento e defesa.

Com lanças, flechas, facas e machados, a linhagem dos hominídeos (que inclui os Homo sapiens dentre dezenas de outras espécies) pode aumentar significativamente seu consumo de nutrientes como proteínas e vitaminas.

Isso, por consequência, foi definitivo para o desenvolvimento de cérebros maiores e corpos mais musculosos que pudessem tolerar mais estresse.

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Imagem: aknourkova / Pixabay 

Muito mais tarde na escala de tempo da evolução humana, as mãos humanas nos permitiram outras duas vantagens evolutivas que nos colocaram onde estamos hoje: a escrita e a agricultura.

A fala e a linguagem foram fatores determinantes para a formação da cultura e sociedade humana. Contudo, apenas com registros dessa linguagem os humanos puderam deixar legados intelectuais mais precisos a seus ancestrais. Para escrever em placas de argila ou em papiro, a delicadeza e precisão das mãos foi imprescindível.

Em certo momento da história, ademais, as tribos de caçadores-coletores começaram a se assentar e se tornaram sedentários. Isso porque nossa espécie aprendeu a domesticar e cultivar plantas para consumo. Novamente, as mãos permitiram aos primeiros fazendeiros plantar sementes e utilizar ferramentas para colheita e processamento de cereais.

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