As baleias comem três vezes mais krill do que pensávamos

Jamille Rabelo

As baleias de barbatanas, ou misticetas, são os maiores animais da Terra. Elas estão mais famintas do que os cientistas acreditavam, o que tem enormes implicações para os ecossistemas marinhos. 

Matthew Savoca, da Universidade de Stanford na Califórnia, e seus colegas estudaram 321 baleias de sete espécies, incluindo a baleia-azul (Balaenoptera musculus), a baleia-fin (Balaenoptera physalus) e a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae).

Os pesquisadores acompanharam estas baleias em todo o Atlântico, Pacífico e Oceanos do Sul e estimaram seus padrões de alimentação utilizando fotografias aéreas das áreas de alimentação das baleias e medições acústicas da densidade de presas, principalmente crustáceos como o krill antártico (Euphausia superba).

A recente pesquisa foi publicada na revista Nature neste mês.

Baleias estão comendo até três vezes mais do que sabíamos

A equipe constatou que a quantidade média de presas consumidas por dia pelas sete espécies de baleias estava entre 5 e 30% de sua massa corporal, uma faixa que é três vezes maior do que as estimativas médias anteriores.

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No Oceano Sul, a equipe estimou que as baleias misticetas comiam cerca de 430 milhões de toneladas de krill por ano antes do início da caça industrial à baleia no início do século 20. Isto é o dobro da massa estimada de krill em nossos oceanos de hoje.

“Esta nova estimativa mais alta é importante para o funcionamento dos ecossistemas oceânicos porque as baleias atuam como gigantescas plantas de reciclagem de nutrientes”, diz Savoca, “Ao consumir ainda mais presas do que se pensava anteriormente na maioria dos casos, elas também estão fazendo mais cocô, e esse cocô é na verdade um fertilizante marinho”.

Este potente fertilizante provoca o crescimento de plantas marinhas, incluindo o fitoplâncton, e fornece alimento para krill e outros peixes pequenos.

Emma Cavan do Imperial College de Londres, que não estava envolvida no estudo, diz: “É contra intuitivo pensar que se houver mais predadores de krill, haverá mais krill. Mas isto ressalta o quanto a biologia é complexa, pois, na verdade, a presença de baleias pode ter fertilizado o Oceano Sul com nutrientes, estimulando assim o crescimento do fitoplâncton, que é o alimento que o krill come. É realmente um verdadeiro círculo da vida, e estamos apenas começando a entendê-lo”.

“Há uma variedade de ações para incentivar a recuperação das baleias, como mais regulamentações e áreas marinhas protegidas em nossos oceanos”, diz Savoca. O estudo destaca o importante papel que as populações de baleias em recuperação desempenham em restaurar as funções do ecossistema marinho.

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