Aço e concreto podem ser substituídos por madeira de reflorestamento

Daniela Marinho
Madeira engenheirada. Imagem: Rubens Cavallari

A pauta sobre sustentabilidade nunca esteve tão em evidência, o motivo é o fato de que o planeta necessita urgentemente de medidas que sejam capazes de mitigar os problemas ambientais e climáticos. Tendo isso em vista, materiais como o aço e o concreto podem ser substituídos por madeira de reflorestamento.

A nova abordagem incorpora um processo industrial avançado que fabrica peças de madeira pré-fabricadas. Estas peças são projetadas para substituir o cimento e os materiais citados tradicionalmente utilizados nas estruturas das construções convencionais.

Por meio dessa técnica inovadora, a produção se torna mais eficiente e sustentável, reduzindo a dependência de materiais que têm maior impacto ambiental. Além disso, a utilização da madeira de reflorestamento, contribui para uma construção mais ecológica, ao mesmo tempo em que mantém a resistência e a durabilidade das edificações.

Madeira engenheirada

A técnica conhecida no Brasil como madeira engenheirada surgiu há aproximadamente 30 anos na Europa e tem sido amplamente utilizada em países como França, Áustria e Alemanha, além dos Estados Unidos, Japão e Canadá.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a promoção do uso de materiais como madeira, bambu e biomassa é essencial. O Pnuma indica que a substituição de materiais convencionais por esses alternativos poderia reduzir em até 40% as emissões de carbono associadas aos materiais de construção até 2050.

O setor da construção é responsável por 37% das emissões globais de carbono. No Brasil, dados da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição) revelam que o país gera cerca de 84 milhões de metros cúbicos de resíduos de construção e demolição anualmente. Este cenário destaca a urgência de adotar práticas mais sustentáveis na construção civil para mitigar o impacto ambiental.

Processo

A madeira selecionada para este processo é proveniente de pinus e eucalipto, duas espécies reconhecidas por sua sustentabilidade, rápido crescimento e facilidade de manejo. Estas características fazem delas opções ideais para a produção de materiais de construção ecológicos.

Antes de serem utilizadas, essas madeiras passam por um cuidadoso processo de preparo, no qual são removidos nós, trincas, rachaduras e outras imperfeições, garantindo sua qualidade e durabilidade.

Ademais, as peças são submetidas a um processo de selagem para protegê-las contra agentes externos e aumentar sua vida útil.

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Eucalipto. Imagem: Canva

Cada peça é então cortada sob medida, levando em consideração as especificidades de cada obra, com detalhes precisos dos pontos de conexão para facilitar a montagem.

Um aspecto inovador desse método é a pré-furação das peças para a instalação de sistemas hidráulicos, elétricos e de ar-condicionado. A montagem das estruturas é semelhante a um grande quebra-cabeça, onde as peças são sobrepostas e encaixadas de forma precisa.

Um dos principais benefícios desse sistema é que a montagem é realizada a seco, o que significa que não são necessários materiais como o cimento tradicional, nem água no processo.

Falta de mão de obra qualificada

No Brasil, poucas incorporadoras adotam a madeira engenheirada devido à necessidade de um processo industrializado, conforme a CBIC, que aponta apenas 5% de empresas do setor utilizando essa técnica.

José Carlos Martins, da CBIC, destaca o potencial brasileiro para liderar a construção sustentável. A Libercon Engenharia e Construção, atuando há 20 anos, iniciou o uso da madeira engenheirada em 2019.

O crescimento da conscientização ambiental, refletido na sigla ESG, impulsiona a demanda por métodos sustentáveis, ainda que representem apenas 5% dos projetos da empresa.

Contudo, a falta de mão de obra devidamente qualificada é um desafio relevante e que resulta na dependência da adesão aos processos industriais. Assim, a Noah destaca a escassez de profissionais especializados como um obstáculo, ressaltando a falta de políticas públicas para o desenvolvimento tecnológico e a qualificação profissional.

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