A Estrela de Belém, do primeiro natal bíblico, realmente ocorreu?

Felipe Miranda
(Pixy).

No dia 21 de dezembro de 2020, os céus nos presentearão com a “Estrela de Belém”. Não trata-se realmente de uma estrela, mas de uma Grande Conjunção – a aproximação entre Júpiter e Saturno. Eles se aproximarão tanto, que para nós parecerão um único ponto super brilhante. 

Grandes Conjunções normais são bastante comuns. Mas essa, em específico, é extraordinária. Uma aproximação tão grande entre Júpiter e Saturno nos céus não ocorre desde a Idade Média, em 1226 – quase 800 anos atrás. Em outro texto, separamos algumas dicas para observar o fenômeno. Acesse-o por meio deste link

O nome “Estrela de Belém” vem da mitologia Cristã. Segundo a tradição católica e algumas protestantes (evangélicos não comemoram o natal como nascimento de Jesus), uma grande estrela no céu (Estrela de Belém) indicou aos Três Reis Magos sobre o nascimento de Jesus. Eles guiaram-se, então, até Belém, na Palestina, bastante próxima a Jerusalém. Mas qual a relação dessa estrela com a realidade?

Os Três Reis Magos e a Estrela de Belém

Os Três Reis Magos são aqueles personagens da famosa história dos três visitantes que levaram ouro incenso e mirra ao recém nascido menino Jesus. Não há evidências, é claro, de que isso realmente ocorreu. Acredita-se que a tradição cristã se inspirou em sacerdotes do Zoroastrismo, uma religião da antiga Pérsia. 

A Estrela de Belém é, na mitologia cristã, um ponto brilhante no céu que guiou os Três Reis Magos até o local de nascimento de Jesus.
Pintura Adoração dos Magos, de Bartolomé Esteban Murillo.

Além disso, o Natal é uma construção póstuma. Roma queria trazer mais pessoas para o cristianismo, seja por motivos políticos, seja por motivos religiosos, já que por muito tempo a Europa não era praticamente inteiramente cristã, como nos dias de hoje. 

Mais ou menos na época de Natal, a religião romana pagã e outras religiões não cristãs da Europa possuíam diversas festividades e rituais ligados ao solstício de inverno europeu (solstício de verão para nós), que ocorre anualmente, entre 21 e 22 de dezembro (21 de dezembro, em 2020). Nesse momento, a noite é mais longa do que o dia e marca o início do inveno. 

“O aparente poder sobrenatural para governar as estações, que se manifesta nos solstícios, inspirou reações de todos os tipos: ritos de fertilidade, festivais relacionados com o fogo, oferendas aos deuses”, conta ao El País o historiador Richard Cohen.

Então, independente de sua crença (se você é cristão pode imaginar, por exemplo que ;deus ocasionou essas misturas – mas não se ofenda com os fatos), historicamente, sabe-se com certeza que o Natal surgiu de uma construção religiosa de Roma para adaptar os povos pagãos aos costumes cristão, trazendo mais fiéis para a religião cristã romana. É mais fácil se adaptar aos costumes de milhões de pessoas do que obrigá-las a mudar seus costumes. 

Buscando pela origem da estrela

Mas e a Estrela de Belém, existiu mesmo? Mesmo que muito da bíblia seja uma construção, baseia-se, em grande parte, em fatos reais. Então a Estrela de Belém pode ser real. Dificilmente um dia descobriremos com certeza, mas há suspeitas de fenômenos astronômicos reais que possam ter inspirado a história dos Três Reis Magos. 

Segundo a revista Astronomy, desde o século XIII (13), estudiosos buscam descobrir o que ocasionou o fenômeno. Mais recentemente, diversas hipóteses surgiram, desde uma supernova, um cometa, uma explosão solar ou alinhamento de planetas. 

De cara, descartamos um meteoro. Esses fenômenos ocorrem instantaneamente.  

Dificilmente é, também, uma supernova. Embora conheçamos de fato as supernovas como uma explosão estelar somente recentemente, há milênios a humanidade observa o céu, e nota os novos brilhos que surgem, e uma supernova naquele período integraria algum outro relato além da bíblia. A única supernova próxima ocorreu em 185 EC, quase dois séculos após o período que a igreja assume como o nascimento de Jesus.

A Estrela de Belém é, na mitologia cristã, um ponto brilhante no céu que guiou os Três Reis Magos até o local de nascimento de Jesus.
SN 185, ou RCW 86, a supernova que se assemelhou a uma forte estrela para os Chineses em 185 EC. (NASA/JPL-Caltech/UCLA).

Mas e se pensarmos em algo mais óbvio? As pessoas estão chamando a conjunção planetária do dia 21 de Estrela de Belém. E se essa “estrela” é, de fato, uma conjunção planetária? Estudiosos cogitam a possibilidade desde o século 13, e é bastante promissora, pois em 3 AEC, Júpiter e Vênus, os dois planetas mais brilhantes do céu, se aproximaram a apenas 1/10 de grau, fundindo-se, no céu aparente, em um único ponto. 

Há, ainda, outras explicações relacionadas com fenômenos reais e tradições da astrologia. É difícil saber se algo real inspirou a história, e ainda mais difícil saber o que inspirou. Então, permanecemos nos campos das hipóteses. 

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