A transição alimentar para uma dieta baseada em carne foi, por muito tempo, a hipótese para o surgimento dos grandes cérebros da espécie humana. No entanto, uma nova pesquisa vai na contramão dessa hipótese e indica que a carne pode não ter sido tão determinante para a evolução do gênero Homo.
As evidências para o consumo de carnes por hominídeos têm números crescentes após aproximadamente 2 milhões de anos atrás. Sobretudo, os Homo erectus – um dos principais e mais antigos grupos de nossos ancestrais – constituem diversas evidências fósseis da alimentação baseada em carne.
Tendo isso em vista, uma equipe de pesquisadores agora coletou dados de ao menos 9 pesquisas anteriores, abrangendo 59 sítios arqueológicos com evidências fósseis de hominídeos datando entre 2,6 e 1,3 milhões de anos atrás. A análise da pesquisa levou em conta, por exemplo, a presença de ossos de caças típicas dos hominídeos, além de marcas de cortes e outras evidências do tipo.
Acontece que a quantidade de fósseis datando de aproximadamente 2 milhões de anos atrás, especialmente do Homo erectus, é bastante grande em comparação a outros períodos.
De fato, há mais ossos de animais em sítios arqueológicos após o aparecimento do Homo erectus. Contudo, também há um aumento significativo na quantidade de fósseis para o período. Ou seja, o consumo de carne não tem uma correlação direta com a abundância do gênero Homo.
“É claro que comer carne foi muito importante para muitos grupos de humanos ao longo da maior parte da história e pré-história humana,” diz o autor W. Andrew Barr em uma declaração.
“Mas a ideia de que que houve um evento evolucionário súbito onde comer carne foi de ser relativamente não-importante para ser tão central que direcionou a evolução de traços-chave humanos não faz sentido com a nossa análise de evidências publicadas.”
Alimentação, carne e tamanho do cérebro
A nutrição é um dos fatores essenciais para a adaptabilidade de uma espécie. Isso porque mais nutrientes permitem mais energia e, portanto, funções e recursos biológicos mais complexos. No entanto, ao que tudo indica, a dieta de nossos ancestrais primatas era bastante semelhante à de chimpanzés, por exemplo: onívora, majoritariamente baseada em vegetais.
De fato, a carne foi uma fonte importante de nutrientes para diversas espécies humanas desde que nossos primeiros ancestrais migraram do continente africano. Todavia, a nova pesquisa, publicada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, reforça a ideia de que a expansão e diversidade da espécie humana não foi completamente dependente da carne.
É claro, contudo, que muitos especialistas discordam dos resultados e argumentam que a carne foi essencial para que tivéssemos cérebros maiores e complexos.
A pesquisa está disponível no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.