Nova espécie de leão marsupial extinto aprofunda sua feroz árvore genealógica

Diógenes Henrique

A maioria dos marsupiais modernos são muito bonitos e fofinhos e — coalas, cangurus, wallabees (ou wallabies), vombates, planadores de açúcar (um marsupial noturno parente dos gambás) e até mesmo alguns tipos de gambás são muito fofos. Mas os antigos leões marsupiais estão longe de parecer adoráveis bolas de pelos. E, como Elaina Zachos relata para a National Geographic, o membro mais novo do grupo acrescenta ainda mais diversidade a suas já ferozes fileiras.

Pesquisadores analisaram o crânio, dentes e um osso superior do braço de um espécime de Wakaleo schouteni e concluíram que a criatura viveu aproximadamente por 18 a 28 milhões de anos atrás. Embora algum dos leões marsupiais fossem tão pequenos quanto esquilos, supreendentemente a mais nova espécie tinha o tamanho de algo como um cachorro.

Anna Gillespie, paleontóloga da Universidade de Nova Gales do Sul, começou a estudar os restos da criatura na década de 1990 ao trabalhar no seu doutorado. E depois de um cuidadoso estudo e de comparação com outros fragmentos, ela finalmente concluiu que era uma nova espécie. Ela e seus colegas detalham o achado em um estudo publicado esta semana no Journal of Systematic Palaeontology1.

“A identificação dessas novas espécies trouxe à luz um nível de diversidade do leão marsupial que foi bastante inesperado e sugere origens ainda mais profundas para a família”, diz Gillespie em um comunicado de imprensa.

O que é um leão marsupial?

Um leão marsupial, como escreve Gillespie, é uma criatura que não é realmente um leão, mas um thylacoleonidae — um grupo de marsupiais que existiam na Austrália entre 24 milhões e 30 mil anos atrás.

No início, eles foram pensados como sendo omnívoros que habitavam em arvores, mas ao longo do tempo eles ficaram mais pesados e passaram a consumir presas maiores, crescendo até o tamanho dos cães nas espécies posteriores. Mas o mais recente ramo da árvore genealógica vai além dessa ideia. A datação sugere que as novas espécies viviam ao mesmo tempo que um leão marsupial do tamanho dos esquilos atuais, o Microleo attenboroughi, identificado no ano passado, o que significa que a árvore genealógica do leão marsupial é muito mais complicada do que os pesquisadores pensavam.

“Elas teriam existido ao mesmo tempo. Elas são realmente conhecidas do mesmo sítio arqueológico daquele fóssil em particular “, disse Christine Janis, uma paleontóloga que não esteve envolvida na pesquisa, segundo Zachos na National Geographic. “Elas eram espécies muito diferentes em tamanho e, portanto, teriam sido diferentes tipos de predadores”.

As marcas de risco encontradas em uma caverna no ano passado mostraram que mesmo as espécies maiores ao evoluir provavelmente mantiveram a habilidade de escalada dos parentes menores, e os pesquisadores acreditam que eles não perseguiram suas presas, mas saltavam sobre elas das árvores. Como Anna Gillespie, principal autora do artigo científico descrevendo a espécie, , os ossos dos braços de Wakaleo schouteni não estavam completos o suficiente para deduzir diretamente seu habitat, mas os fósseis descobertos perto dele sugerem que também passavam muito tempo nas árvores, perseguindo sua presa de uma árvore para outra.

“Meus colegas e eu descobrimos uma nova espécie de leão marsupial, o Wakaleo schouteni, da Riversleigh World Heritage Area, no noroeste de Queensland. A espécie era do tamanho de um cão da raça collie e pesava cerca de 23 quilogramas. Os fósseis desta espécie incluem um crânio, mandíbulas e ossos do braço maravilhosamente preservados. Eles foram recuperados de sítios arqueológicos datados de cerca de 18 milhões de anos (um período conhecido como Mioceno primitivo) e de outros que são estimados como sendo mais velhos (do período de Oligoceno tardio, aproximadamente 23 milhões de anos atrás)”, escreve Gillespie.

Não exatamente um leão

Os leões marsupiais, também conhecidos como tilacoleonídeos (nome genérico dado aos extintos marsupiais da família Thylacoleonidae), que viviam, há cerca 24 milhões até o final do Pleistoceno (época da período Quartenário da era Cenozóica) a cerca de 30 milhões de anos atrás, no território que hoje é conhecido como Austrália.

As características que permitiram distingui-lo é a presença de pré-molares alongados que formavam algo similar a um par de lâminas de tesouras de poda. Até o momento, a família de tilacoleonídeos contém nove espécies, cinco das quais pertencendo ao gênero Wakaleo, explica Gillespie.

Anteriormente, as espécies do Wakaleo, relata Gillespie, foram descobertas de sítios mais recentes abrangendo do Mioceno intermediário até o Mioceno tardio, datado de aproximadamente 17 a 15 milhões de anos atrás. Essas espécies tinham com bastante imprecisão o tamanho dos cães atuais e aparentavam ter morfoclines — isto é, uma série de animais com certas características que evoluíram gradualmente ao longo do tempo, com cada espécie sendo sequencialmente substituída. As espécies dentro do gênero Wakaleo aumentando de tamanho ao longo de milhares de anos.

Essas espécies foram diferenciadas de outros leões marsupiais através da perda de dente (ou dentes) pré-molar frontal. Contudo, a recém encontrada Wakaleo schouteni ainda mantém esses pré-molares, indicando que indivíduos anteriores ou mais jovens do gênero que tinham a característica eram mais primitivos. Essa característica era compartilhada com outro leão marsupial pertencente a aproximadamente ao mesmo período: o Priscileo pitikantensis, do centro da Austrália.

“É possível que essa característica fracamente preservada nessa espécie pode ter sido uma espécie de Wakaleo”, esclarece Gillespie. “Nosso novo estudo realizou uma revisão daquele espécime e encontrou similaridades nos molares e nos úmeros, o osso mais alto da pata frontal, com os do W. schouteni, confirmando que era uma espécie de Wakalelo (agora chamada de Wakaleo pitikantensis).”

Uma olhada nos ossos

A pesquisadora relata que o osso do crânio do Wakaleo schouteni tinha algo em torno de 16,5 centímetros de comprimento. Mostrado na fotografia abaixo, na extremidade esquerda está o nariz e maior parte da face. No meio, está o osso da bochecha (que está imcompleto) e a cavidade orbitária ocular e na extremidade direita está a caixa craniana.

Segundo ela, a nova espécie de Wakaleo oriunda de Riversleigh defere da outra vinda da Austrália central por ser ligeiramente maior e por diferenças na morfologia na extremidade do ombro no úmero. Na anatomia, “morfologia” é um termo que descreve a aparência e a estrutura de uma parte do corpo. Essas diferenças no úmero sugerem que as duas espécies evoluíram movendo seus braços de forma ligeiramente diferentes.

“Nos olharemos mais detalhadamente para isso agora, como parte de nossa futura pesquisa”, explica Gillespie.

Como era a Austrália

Os fósseis que são encontrados em uma região podem dizer muito sobre como eram os antigos habitantes do local. Com a base da diversidade dos mamíferos recuperada de Riversleigh, a região da Austrália que era uma área florestal do Oligoceno tardio ao Mioceno recente.  “Nós acreditamos que no período primitivo [o Mioceno recente], de aproximadamente 23 milhões de anos de idade, havia florestas relativamente esparsas e no período mais tarde [Oligoceno tardio], por volta de 18 milhões de anos atrás, florestas mais fechadas e possivelmente florestas tropicais. É altamente provável que Wakaleo schouteni perseguia suas presas — pequenos vertebrados como lagartos, sapos, pássaros e pequenos mamíferos — do topo das árvores dessas florestas”, explica a paleontóloga.

Dadas as visíveis mudanças ao longo do tempo que foram relatadas nas espécies de leões marsupiais de Wakaleo, é possível que indivíduos das espécies ligeiramente menores da Austrália central possam ser ligeiramente mais velhas que os seus parentes maiores da espécie Wakaleo schouteni.

“Alternativamente, esses animais podem representar o que é conhecido como espécies alotrópicas: isso significa que elas evoluíram separadamente devido ao isolamento geográfico”, diz a publicação citada. “Seja qual for o cenário, essas novas descobertas empurram as origens do gênero Wakaleo para trás, no Oligoceno tardio, período há 23 milhões de anos no passado da Austália, e apontam para origens mais antigas os leões marsupiais do que aquelas que havíamos previsto”, concluiu.

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