Menor espécie de sapo do mundo, o sapo-pulga, é registrada no Brasil

Leandro da Silva Monteiro
Comparação do tamanho do sapo-pulga com uma moeda de um real. Imagem: Renato Gaiga / Divulgação

Sapos não são os seres mais queridos do mundo animal. Inclusive muitas pessoas tendem a considerá-los repugnantes. Porém na ciência não existe esse tipo de julgamento e esses animais continuam fascinando muitos biólogos pelo mundo, o que inclui os profissionais que estudam as espécies brasileiras. Três anos atrás, foi descoberta uma espécie denominada de sapo-zumbi na Amazônia. Apelido peculiar, porém que nada tem a ver com os monstros do cinema e sim ao fato que o anfíbio costuma ficar enterrado, saindo apenas nas chuvas. Mais recentemente o Brasil se tornou o lar da menor espécie de sapo do mundo, o sapo-pulga.

O sapo em questão já tinha sido descrito por cientistas em 2011, e recebeu o nome científico de Brachycephalus pulex. Porém, popularmente, ele ficou conhecido como sapo-pulga, uma pequena espécie que tem o tamanho de uma ervilha. Porém isso ainda está sujeito ao debate pois o atual recorde oficial de menor vertebrado do mundo pertence ao Paedophryne amauensis. Essa espécie é natural da Papua-Nova Guiné e tem em média cerca de 7,7 milímetros de comprimento.

Porém se a pesquisa de Mirco Solé, professor titular na Universidade Estadual de Santa Cruz, for aceita pela comunidade científica, o sapo-pulga pode tirar o título de menor espécie de sapo do mundo do Paedophryne amauensis. Em fevereiro deste ano ele publicou seu artigo ‘Zooming in on amphibians: Which is the smallest vertebrate in the world? (tradução: Focando nos anfíbios: Qual é o menor vertebrado do mundo?) na revista Zoologica Scripta.

Conheça o sapo-pulga, candidato a menor espécie de sapo do mundo

O professor Mirco Solé já vinha acompanhando a descoberta do sapo-pulga desde 2011 e se perguntava se a espécie tinha esse potencial de ser o menor vertebrado do planeta. Porém havia um problema porque as espécies encontradas haviam sido tiradas de um único habitat no topo de colinas florestadas do sul da Bahia. Além disso, os pesquisadores não examinaram os órgãos genitais dos espécimes, o que é necessário para se determinar que eles já são adultos e não se encontram em fase de crescimento.

Portanto, para determinar o tamanho médio do sapo-pulga, Solé e seus colegas que colaboraram na pesquisa mediram o comprimento de 46 sapos. A equipe também verificou o sexo e a maturidade de cada um dos espécimes examinando seus órgãos genitais. Para diferenciar os sapos-pulga machos das fêmeas, os pesquisadores verificaram a presença de fendas vocais nas gargantas, algo que apenas os machos apresentam.

Com isso, os cientistas brasileiros conseguiram determinar que os sapos-pulga machos adultos têm um comprimento médio de 7 milímetros. As fêmeas são ligeiramente maiores. Sendo assim, o estudo indica que o sapo-pulga seria menor que as espécies encontradas do Paedophryne amauensis, o menor anfíbio do mundo até o presente momento.

Paedophryne amanuensis era o menor sapo do mundo até ser desbancado pelo sapo-pulga
Foto do Paedophryne amanuensis . Imagem: Wikimedia Commons – Creative Commons Attribution 2.5

Alguns cientistas já expressaram concordância com o achado da pesquisa de Mirco Solé. Mark Scherz, pesquisador no Museu de História Natural de Copenhague na Dinamarca disse que “É absolutamente claro! Estas realmente são potencialmente as menores rãs vivas do mundo, o que é espantoso.”

O que causa espanto em Mark Scherz não é apenas o tamanho médio do sapo-pulga, mas sim quando elas são comparadas a outras espécies de pequenos sapos do mundo. O menor espécime do estudo de Solé possuía 6,45 milímetros de comprimento, o que é cerca de um terço do tamanho de qualquer outra espécie de sapo macho adulto que Scherz teria visto. Um milímetro a menos do que os espécimes da Papua-Nova Guiné.

Devido ao tamanho tão pequeno, esses tipos de sapos acabam por desenvolver algumas peculiaridades anatômicas. Por exemplo, alguns perdem os dedos ou tem ouvidos tão subdesenvolvidos  que não conseguem escutar nem mesmo a própria voz. Alguns sapos perdem até a capacidade pular já que seus órgãos de equilíbrio são tão pequenos. Apesar do seu achado, Solé não desconsidera a possibilidade de haver invertebrados ainda menores não descobertos pela humanidade.

Compartilhar