Há mais de sete anos, um momento significativo ocorreu em Paris, onde líderes de nações de todo o mundo convergiram para forjar um plano de grande ambição e, ao mesmo tempo, absolutamente necessário. Esse plano foi concebido como uma resposta à nossa própria influência prejudicial sobre o planeta, especialmente no que se refere às mudanças climáticas causadas pelo ser humano.
Datado de dezembro de 2015, esse marco de ação foi chamado de Acordo Climático de Paris. Posteriormente, todas as ações e compromissos no âmbito das mudanças climáticas, bem como as conferências conduzidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), seguiram a trajetória delineada pelo objetivo central do Acordo de Paris: limitar o futuro aumento da temperatura global a um patamar “muito abaixo” de 2 graus Celsius, com uma preferência pelo ideal de 1,5 graus Celsius.
No entanto, após todos esses anos depois da realização do acordo, o objetivo específico pode estar muito fora de alcance.
Mudanças climáticas ainda representam incertezas para o futuro do planeta
O Acordo de Paris estabeleceu limites cruciais de 1,5 graus Celsius, destacando-o como um ponto crítico que a humanidade deve evitar cruzar para evitar os desdobramentos mais severos do aquecimento global.
Cumprir esse limite exigiria um esforço global abrangente de descarbonização, envolvendo uma transição profunda de uma economia mundial fortemente ligada a combustíveis fósseis ricos em carbono.
Contudo, o relatório ressalta que o caminho futuro das condições climáticas ainda permanece incerto, deixando o destino do nosso planeta nas nossas mãos. Publicado pela Universidade de Hamburgo, o relatório “Perspectivas para o Clima Futuro” examinou uma variedade de fatores físicos e influências sociais relacionadas ao aquecimento global, das quais derivaram seis lições primordiais.
1. Adaptação sustentável
Apesar do Acordo de Paris, as mudanças climáticas estão agora ocorrendo e a preparação insuficiente para a adaptação é evidente. O relatório delineou uma Abordagem de Adaptação Sustentável para lidar de maneira saudável com as mudanças climáticas. Exemplos incluem diques costeiros na Alemanha e a iniciativa inovadora holandesa Sand Motor para evitar a erosão.
O futuro climático está em nossas mãos, mas será desafiador. O relatório é uma mistura de perspectivas, pois embora pareça sombrio, ele nos lembra que ainda temos controle sobre o resultado. Cumprir a promessa do Acordo de Paris exige transformações energéticas globais; não é possível manter combustíveis fósseis e clima estável simultaneamente.
2. Fatores sociais
Nas discussões sobre mudanças climáticas, o foco é apenas em eventos extremos e avanços científicos para capturar carbono. Desse modo, é deixado de lado o controle direto no cumprimento do Acordo de Paris das pessoas em geral, sem depender de tecnologias futuras.
O relatório destaca a falta de ações após conferências climáticas da ONU, apesar das promessas “verdes” dos líderes. No entanto, os protestos climáticos ainda podem contribuir para leis contra as mudanças climáticas. Assim, os autores do relatório enfatizam o potencial humano para influenciar o rumo do futuro climático.
3. Consequências por não atingir 1,5 Celsius
O relatório identifica três principais consequências do não cumprimento do objetivo principal do Acordo de Paris: primeiro, prevê-se alterações drásticas na camada de gelo polar (Antártida e Gronelândia), possivelmente levando a um aumento sinistro do nível do mar e mudanças na própria Terra.
Em segundo lugar, a possibilidade de limitar o desmatamento na Amazônia está relacionada aos desenvolvimentos futuros, incluindo as políticas do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Por fim, a atividade do permafrost ( refere-se ao solo que normalmente fica congelado o ano todo, mas que corre o risco de descongelar devido ao aquecimento global) no futuro é incerta, mas é provável que cause um aquecimento global descontrolado.
4. Fatores do aquecimento global podem não impactar como se imaginava
Alarmes soaram devido ao derretimento do gelo polar e perda no mar Ártico. Apesar do impacto do derretimento ártico no nível do mar e do clima, o relatório minimiza sua influência na temperatura da superfície.
Em contrapartida, o derretimento do permafrost e o desmatamento amazônico preocupam-se em liberar carbono. Assim, o relatório prevê que esses fatores afetarão moderadamente a temperatura global e a meta do Acordo de Paris, evitando um cenário apocalíptico do aquecimento global temido por alguns.
5. Impacto da Covid-19 e da Guerra na Ucrânia
A pandemia de Covid-19 e a invasão russa na Ucrânia afetaram a trajetória das mudanças climáticas, mas o estágio permanece certo. A recuperação pós-Covid impulsionou economias com combustíveis fósseis, porém, futuros surtos podem mudar a produção e o consumo.
Embora as preocupações sobre o carvão após a crise do gás russo tenham surgido, a guerra poderia contribuir com objetivos verdes da UE, alcançando a independência energética.
6. Alcançar 1,5 graus não é mais razoável
O estudo analisa dez principais “motores sociais” de aquecimento global, que podem tanto enfraquecer quanto fortalecer os objetivos de descarbonização do Acordo de Paris, incluindo o abandono de combustíveis fósseis por empresas e protestos climáticos.
Os fatores que “minam” o acordo são:
- Respostas das corporações;
- Padrões de consumo humano.
Os fatores que apoiam o acordo são:
- Litígio climático;
- Governança da ONU (conferências climáticas);
- Desinvestimento de combustíveis fósseis;
- Protestos climáticos;
- Produção de conhecimento (ações climáticas);
- Regulamentação climática;
- Iniciativas transnacionais.
A mídia é ambivalente, minando ou apoiando o acordo com base no tipo de cobertura climática. Considerando esses fatores, o relatório conclui que uma “descarbonização profunda” até 2050 não é provável, resultando na inviabilidade do objetivo de aquecimento global de 1,5 graus do Acordo de Paris, mesmo há apenas sete anos após sua adoção.