Um afresco de natureza-morta, semelhante a uma pizza, foi descoberto entre as ruínas de Pompeia. Essa pintura, datada de 2.000 anos atrás, foi encontrada durante escavações na área de Regio IX do parque arqueológico da cidade. O achado chama a atenção por representar um prato que parece ser uma pizza, mas com algumas diferenças significativas: faltam os ingredientes essenciais – tomate e mussarela – e inclui algo inesperado como o abacaxi.
Encontrado em um corredor que provavelmente levava a uma padaria adjacente em uma casa antiga, o afresco retrata um pão focaccia redondo em uma bandeja de prata decorada com várias frutas, como romãs e possivelmente tâmaras. No entanto, a presença de um “abacaxi” no prato é intrigante, pois se sabe que os europeus só o conheceram após Cristóvão Colombo encontrá-lo em Guadalupe em 1493.
Especialistas apontam que o pão está temperado com especiarias ou moretum, um queijo de ervas consumido pelos antigos romanos. Ao lado do pão encontra-se um cálice de vinho e frutas secas como tâmaras e romãs, além de uma guirlanda amarela feita com medronho.
Explorando as origens do afresco
Acredita-se que essa natureza-morta tenha sido inspirada no ritual grego conhecido como xenia, uma prática de hospitalidade em que presentes eram oferecidos aos convidados. Essa tradição remonta ao período helenístico e imagens semelhantes eram comuns nas casas de Pompeia e nas proximidades de Herculano. Infelizmente, essas cidades foram devastadas pela erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C.
Embora seja incomum encontrar um afresco retratando uma focaccia, Gabriel Zuchtriegel, diretor do parque arqueológico de Pompeia, sugere que a pintura reflete o contraste entre uma “refeição frugal e simples” e o “luxo das bandejas de prata e o refinamento das representações artísticas e literárias”. Ele também faz uma conexão interessante com a pizza atual, descrevendo-a como um prato originariamente “pobre” do sul da Itália que conquistou o mundo e agora é servido até mesmo em restaurantes renomados.
A controvérsia da pizza com abacaxi permanece
Enquanto alguns especialistas especulam sobre a natureza do pão retratado no afresco, Gino Sorbillo – proprietário de uma das pizzarias mais antigas de Nápoles – não está convencido de que se trata realmente de uma pizza. Ele menciona que já era conhecida na antiga Pompeia a existência de pães chatos feitos com grãos, água, sal e possivelmente cerveja para fermentação. Esses pães poderiam ser cobertos com legumes ou peixe fresco do dia, representando assim uma forma ancestral da pizza.
Sorbillo também destaca que, durante o período romano antigo, frutas como as encontradas no afresco poderiam ser consideradas pratos principais. No entanto, ele deixa claro que em pizzas modernas é possível usar frutas doces, como figos ou morangos.
Apesar das diferentes interpretações sobre o afresco e seu papel na história da pizza, Sorbillo ressalta que isso não resolve a discussão sobre o abacaxi como ingrediente da pizza. Ele reitera que cada um tem seus gostos pessoais e que sua pizzaria serve apenas a tradicional pizza sem abacaxi.
A fascinante Pompeia continua revelando tesouros
As escavações na área chamada de Insula 10, na Regio IX de Pompeia – onde se encontrava um conjunto de casas, oficinas e uma padaria – começaram recentemente e já renderam descobertas surpreendentes. Além do afresco discutido anteriormente, foram encontrados os restos mortais de três vítimas: duas mulheres e uma criança em uma padaria onde buscavam abrigo. Também foram descobertos afrescos retratando cenas míticas de Apolo e Dafne, além de Poseidon e Amymone.
Outras duas vítimas – provavelmente dois homens com cerca de 50 anos – foram encontradas em outra parte do local. Acredita-se que esses homens tenham sido mortos por um terremoto que ocorreu simultaneamente à erupção do Vesúvio. Um dos corpos foi encontrado com o braço erguido na tentativa de se proteger do desmoronamento das paredes. Próximo aos corpos foram encontradas contas de colar e seis moedas, duas delas datadas do século II a.C.
O ministro italiano da Cultura, Gennaro Sangiuliano, expressou sua surpresa com as constantes descobertas em Pompeia. Ele descreve a cidade como um tesouro inesgotável que sempre revela novos achados.
Pompeia continua fascinando o mundo com suas histórias e mistérios milenares. As escavações representam uma janela para o passado e nos permitem entender melhor as tradições e a vida quotidiana dos antigos romanos. O afresco de natureza-morta retratando uma focaccia peculiar é só mais um exemplo da riqueza cultural que emergiu das cinzas do passado.
