As zonas úmidas do mundo são ecossistemas historicamente negligenciados, mas comprovadamente inestimáveis. Pântanos, manguezais, turfeiras, planícies aluviais e outras áreas aquáticas, como rios, lagos e costas, são repletos de biodiversidade e desempenham um papel crucial na saúde do planeta e na busca por soluções baseadas na natureza para os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Infelizmente, entre 1970 e 2015, cerca de 35% das zonas úmidas globais desapareceram por diversos motivos. Desde o início do milênio, essa taxa de perda vem se acelerando. No entanto, nos últimos anos, muitos governos ao redor do mundo têm reconhecido a necessidade de proteger e restaurar esses ecossistemas valiosos.
Compromisso global pela recuperação dos habitats-chave
Na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15), ocorrida em dezembro de 2022, 188 países se comprometeram com o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF). Dentre as 23 metas acordadas para serem alcançadas até 2030, várias estão diretamente relacionadas ao status das zonas úmidas. Essas metas incluem:
- Conservação e gestão eficaz de pelo menos 30% das terras, águas interiores, zonas costeiras e oceanos do mundo;
- Restauração concluída ou em andamento de pelo menos 30% dos ecossistemas terrestres, águas interiores e ecossistemas costeiros e marinhos degradados;
- Redução da perda de áreas de elevada importância para a biodiversidade;
- Redução do excesso de nutrientes e do risco representado por pesticidas e produtos químicos perigosos;
- Prevenção da introdução de espécies exóticas invasoras prioritárias e redução das introduções de outras espécies exóticas conhecidas ou potenciais;
- Erradicação ou controle de espécies exóticas invasoras em ilhas e outros locais prioritários.
Importância das áreas úmidas
As zonas úmidas são essenciais para o equilíbrio ambiental. Apesar de ocuparem apenas cerca de 6% da superfície terrestre do planeta, elas têm capacidade única para armazenar carbono, superando as florestas e removendo o dióxido de carbono atmosférico até 55% mais rápido que as florestas tropicais. Além disso, esses ecossistemas abrigam aproximadamente 40% das espécies vegetais e animais do mundo.
As áreas úmidas também desempenham um papel fundamental na prevenção de desastres naturais, atuando como esponjas orgânicas capazes de absorver grandes quantidades de água durante enchentes. Além disso, elas contribuem diretamente para a segurança alimentar, fornecendo recursos pesqueiros comerciais, madeira, medicamentos e culturas agrícolas populares como mirtilos, cranberries e arroz selvagem.
Perda e restauração das áreas úmidas
Apesar de sua importância, as áreas úmidas têm sido afetadas pela atividade humana. Drenagem para fins agrícolas, desenvolvimento comercial e residencial, além da introdução de poluentes e espécies invasoras, são responsáveis pela maioria das perdas e danos recentes nesses ecossistemas. Desde o século XVIII, cerca de 90% das áreas úmidas mundiais foram perdidas.
No entanto, iniciativas estão sendo implementadas para reverter essa situação. Na Argentina, por exemplo, foi aprovada uma lei permanente para proteger a Península Mitre na província de Tierra del Fuego. Essa área abrange florestas de algas marinhas e extensos pântanos que formam o maior sumidouro de carbono do país.
Na China, um conceito revolucionário conhecido como “cidades esponjas” está em desenvolvimento para trinta cidades, incluindo Chengdu. A ideia é incentivar a preservação e restauração das áreas úmidas nessas regiões para coletar água durante temporadas chuvosas propensas a enchentes e utilizá-la posteriormente.
No Reino Unido, está em andamento o projeto Great North Bog, com o objetivo de restaurar cerca de 92% das turfeiras nas terras altas do norte da Inglaterra que foram drenadas para pastagem ovina e criação de aves selvagens. Esse projeto contribuirá significativamente para alcançar as metas do país em relação às emissões de carbono.
Conclusão
A proteção e restauração das zonas úmidas do mundo são essenciais para enfrentar os desafios ambientais e climáticos que estamos enfrentando. Os governos ao redor do mundo estão se comprometendo cada vez mais com a conservação desses ecossistemas valiosos.
As áreas úmidas oferecem benefícios significativos, como armazenamento de carbono, biodiversidade surpreendente e proteção contra eventos climáticos extremos. Além disso, elas sustentam as necessidades humanas, fornecendo recursos naturais e serviços ecossistêmicos vitais.
Embora o ritmo de perda das áreas úmidas ainda seja alarmante, as iniciativas mencionadas mostram que está ocorrendo um movimento global para reverter essa tendência. Agora é o momento de agir e garantir que esses preciosos ecossistemas continuem prosperando para o benefício de todos.