Quais as origens dos zumbis e por que eles são tão fascinantes?

Daniela Marinho
Os zumbis são mortos-vivos; a figura é bastante trabalhada em filmes, séries e jogos. Imagem: Canva

São diversos os exemplos de produções cinematográficas que têm como tema principal criaturas hostis, que perderam a consciência, mortos-vivos – são os zumbis. A mais recente “The Last of Us” conquistou o público já em sua estreia. No entanto, outra série mais antiga, “The Walking Dead“, retratou tão bem a temática que já conta com 11 temporadas e fãs em todo o mundo. Nesse sentido, quais são as origens dos zumbis e por que eles causam tanto fascínio?

Origens dos zumbis pode ter cunho religioso africano

Os zumbis de hoje são fruto da adaptação e migração de uma criatura exótica das partes mais pobres das colônias para o centro do império. Há especulações de que a palavra “zumbi” pode ter vindo de línguas da África Ocidental, como o ndzumbi, que significa “cadáver” no idioma mitsogo do Gabão, ou o nzambi, que quer dizer “espírito de um morto” em quicongo, falada no antigo Reino do Kongo e hoje uma língua nacional em Angola.

Os traficantes de escravos europeus trouxeram uma grande quantidade de africanos desses lugares para trabalhar nas plantações de açúcar das Índias Ocidentais, gerando lucros que alimentaram a ascensão da França e Inglaterra como potências mundiais. Os escravos trouxeram suas religiões para o outro lado do Atlântico, mas a lei francesa os obrigava a se converterem ao catolicismo. Isso resultou na criação de religiões artificiais elaboradas, que misturavam elementos de diversas tradições, como o vodu do Haiti, o obeah da Jamaica e a santeria de Cuba.

Zumbi: um termo flexível e “histórico”

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Cena da série “The Walking Dead”. Imagem: AMC

Tanto no Haiti, quanto na Martinica, o termo “zumbi” costumava ser usado para descrever uma presença perturbadora, seja um espírito ou um fantasma, que assume diversas formas à noite.

Contudo, a crença de que os feiticeiros poderiam fazer suas vítimas parecerem mortas e depois revivê-las para servir como escravos particulares se formou gradualmente ao longo do tempo, seja através de magia, hipnose ou uma poção secreta. O zumbi era visto, então, como o resultado natural da escravidão: uma pessoa sem vontade própria, sem identidade e presa em uma espécie de morte em vida.

As nações imperiais europeias se interessaram pelo vodu no Haiti por causa das condições enfrentadas na colônia francesa, onde a mortalidade entre os escravos era alta e uma rebelião iniciada pelas classes mais pobres culminou na eliminação dos senhores de escravos em 1791.

Dessa forma, o Haiti sempre foi demonizado como um lugar violento e supersticioso, muito porque durante o século 19, eram comuns relatos de canibalismo, apetrechos humanos e rituais místicos perigosos no Haiti.

Foi somente no século 20, após a ocupação americana do Haiti em 1915, que as histórias e rumores sobre os “zumbis” começaram a circular. As forças americanas tentaram suprimir sistematicamente a religião local, o vodu, o que, ao forçar isso, fortaleceu sua prática.

Transposição para a América

Se antes os zumbis não passavam de “uma ideia”, com as revistas americanas de pulp fiction das décadas de 20 e 30, agora tinham a forma de corpos apodrecidos que vagavam nos arredores dos cemitérios.

Contudo, não foram as revistas que trouxeram a figura do zumbi para o mundo sobrenatural americano. Dois escritores do fim dos anos 20 viajaram para o Haiti e disseram encontrado verdadeiros mortos-vivos. Um deles foi o escritor, jornalista e ocultista William Seabrook, que visitou o país em 1927 e produziu A Ilha da Magia contando a viagem. Até hoje, o autor ´considerado o responsável por fazer nascer o termo “zumbi” no contexto americano.

Outra responsável foi a Zora Naele Hurston, venerada autora negra americana que se formou em antropologia e passou vários meses no país caribenho para se tornar sacerdotisa do vodu.

Tendo seu diário pessoal publicado com o título de Tell My Horse (1937), a autora não só afirma que os zumbis existem, como relata seu encontro com um deles, com uma foto para “provar”.

Dívida histórica

Se a mulher capturada na foto de Hurston não era realmente uma morta-viva, era pelo menos alguém que passou por uma morte social, sendo excluída de sua comunidade e até mesmo enfrentou uma grave doença mental.

O relato é mais uma dívida histórica da escravidão, quando uma pessoa em sua singularidade é desprovida da sua personalidade e do convívio com outras pessoas.

A história dos zumbis certamente assume a figura de encobrir — ou mostrar — os traumas históricos adquiridos pela escravidão, sobretudo na cultura contemporânea americana, uma vez que discutir o racismo é de suma relevância.

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