Donos de animais de estimação suspeitaram disso por muito tempo, mas agora um novo estudo descobriu que quase 90% dos cães que sofrem a perda de um “companheiro” canino na mesma casa demonstram comportamentos negativos nos meses seguintes. Isso indica que os cães domésticos sofrem luto, de certa maneira, quando outro cão da mesma casa morre.
Os comportamentos subsequentes incluem menos disposição para brincar, comer, aumento do medo e busca por mais atenção.
“Pode ser indicativo de sofrimento”, disse Federica Pirrone, da Universidade de Milão, Itália, uma das autoras do estudo, publicado na revista Scientific Reports. “Cães são animais altamente emocionais, que desenvolvem laços muito próximos com os membros de um grupo familiar. Isso significa que eles podem ficar muito angustiados se um deles morre, e esforços são necessários para ajudá-los a lidar com essa aflição”.
Expressões de luto não são únicas aos humanos: macacos grandes, elefantes, orcas e pássaros estão entre as espécies cujas observações registram que há algum ritual em torno da morte e aparente luto.
A pesquisa sobre como cães domésticos sofrem luto
A equipe de Pirrone realizou a pesquisa com 425 pessoas que tinham tido pelo menos dois cães, depois de um deles ter morrido, e perguntou sobre quaisquer mudanças no comportamento dos cães sobreviventes.
Os participantes do estudo tiveram que preencher questionários online, não apenas sobre o comportamento dos cães, mas deles mesmos, em termos comportamentais e emocionais.
Os cães tinham maior tendência a serem afetados negativamente se seus donos também sofressem um luto maior, sugerindo que eles poderiam estar reagindo, também, ao comportamento dos donos.
“Cães se tornaram extremamente sensíveis aos gestos comunicativos e expressões faciais dos humanos”, disse Pirrone. “Um cuidador e um cão desenvolvem uma conexão emocional”.
Os resultados da pesquisa revelam que 86% dos donos afirmaram que os cães sobreviventes sofreram mudanças comportamentais após a morte do outro canino da casa. Pirrone disse: “Geralmente, os relatos mostram que os cães brincavam e comiam menos, dormiam mais e buscavam mais atenção dos donos”.
Os pesquisadores explicaram diversas justificativas possíveis para os resultados, inclusive que a morte pode ter perturbado os comportamentos compartilhados nos cães que sobreviveram.
“Em apoio a esta hipótese nós descobrimos que se os cães costumavam compartilhar comida durante a vida, o cão sobrevivente tinha maior tendência a reduzir o seu nível de atividades e a dormir mais depois da perda”, escreveram os autores.
O relato mostra que esses cães tinham maior tendência a “lamentar” a morte do companheiro perdido se os dois tivessem tido uma relação amigável antes, principalmente se costumavam compartilhar comida.
A professora Samantha Hurn, uma antropóloga social da Universidade de Exeter, disse que o estudo tem limitações, como a frequência com a qual os donos podem interpretar corretamente o comportamento dos cães, assim como o uso de questionários para dimensionar uma questão tão subjetiva, fatores que limitam as conclusões a serem tiradas.
Ela acrescentou: “Ao longo das minhas próprias pesquisas, eu presenciei muitos cães e outros animais se comportamento de maneiras muito diferentes, mas maneiras que, não obstante, sugerem a mim que eles foram emocionalmente impactados pela perda de um companheiro próximo”.
As opiniões e pesquisas, assim como observações dos próprios donos, parece demonstrar que, de fato, cães domésticos sofrem luto após a perda de um companheiro canino.