Em abril de 2021, pesquisadores fizeram uma descoberta única e inédita: a primeira múmia grávida já encontrada (Confira aqui). Um novo estudo se aprofunda no caso e agora mostra que o feto se preservou no útero sob condições bastante especiais.
De acordo com uma nova pesquisa, disponível no periódico Journal of Archaeological Science, o feto ainda dentro do útero da múmia grávida se conservou, sobretudo, devido ao pH.
Acontece que, durante a decomposição da matéria orgânica, diversos ácidos – como o ácido fórmico – surgem como produto da ação de microrganismos e proteínas. No caso da mumificação, ademais, os antigos egípcios adicionavam sais como o natrão aos tecidos da pessoa falecida.
O sal, por sua vez, retira a umidade do material biológico e dificulta a degradação por microrganismos. Deste modo, os tecidos do feto ficaram desidratados e conservados em um ambiente altamente ácido antes que organismos decompositores pudessem degradar o feto.
Por esse motivo, inclusive, a detecção de um feto é uma realização difícil. Isso porque um feto com menos de 6 meses ainda não tem o esqueleto mineralizado e completamente formado. Assim, é muito difícil encontrar o material em tomografias e raios-X.
O que ocorreu nesse caso é que os tecidos superficiais do feto acabaram mineralizados dentro da múmia grávida. Isso permitiu, portanto, que pesquisadores conseguissem identificar a criança.
A autora Marzena Ożarek-Szilke afirma, em uma declaração, que a descoberta deve impulsionar a procura por outras múmias grávidas. “Acontece que até o momento [as múmias] não foram suficientemente analisadas nesse quesito. Agora, considerando nossas descobertas, é só uma questão de tempo até a próxima mulher grávida mumificada ser encontrada.”
Processo similar à ‘conserva’ no útero da múmia grávida
De forma bastante didática, Ożarek-Szilke compara o processo pelo qual o feto se preservou com aquele usando na conservação de alimentos. “O feto permaneceu no útero intocado e começou a, digamos, ‘conservar’. Não é a comparação mais estética, mas convém à ideia.”
Desse modo, a mudança de um ambiente alcalino ou neutro para um ambiente ácido de forma abrupta pode ter evitado a perda do material biológico. O mesmo processo acontece com alimentos conservados no vinagre e em soluções salinas.
Os autores ainda afirmar que, provavelmente, o feto foi preservado devido à crença da civilização que mumificou essa mulher grávida. Isso porque todos os demais órgãos foram retirados.
“Talvez tivesse alguma relação com a crença do renascimento na vida após a morte,” diz Ożarek-Szilke.
Na pesquisa, a equipe conclui: “Nós relembramos que esta era uma pessoa que viveu bastante e teve seus sonhos, provavelmente entes queridos e foi amada. Agora ela nos revela os secretos que levou consigo para o túmulo.”
A pesquisa está disponível no periódico Journal of Archaeological Science.