Um feto mumificado foi encontrado no útero de uma múmia egípcia

Lorena Franqueto
Primeira múmia encontrada com feto plenamente preservado. Imagem: RachelBostwick/Pixabay

Em 2015, a Universidade de Varsóvia lançou o projeto Warsaw Mummy Project, composto por um grupo de bioarqueórgolos. Agora, em 2021, encontraram um feto mumificado no útero de uma múmia egípcia com 2.000 anos. Este é o primeiro caso documentado de um bebê conservado com a mãe. O estudo foi publicado no Journal of Archaeological Science.

A múmia está em exposição no Museu Nacional da Varsóvia, mas antes era considerada restos de Hor-Djehuti, um sacerdote do início da 18ª Dinastia. Contudo, recentes tomografias revelaram discrepâncias nessas informações.

Na verdade, a múmia estava grávida e não poderia corresponder ao corpo do sacerdote. Assim segundo os resultados da pesquisa, a mulher, sepultada em tumba completamente diferente, tinha entre 20 e 30 anos e possuía em seu útero um feto de 26 a 30 semanas, quando morreu e sofreu o embalsamento.

Como encontraram o feto mumificado no útero de uma múmia egípcia?

X ray 0
Imagens, em raio-X, da múmia e do seu feto preservados. Imagem: Warsaw Mummy Project

Segundo o líder do projeto Dr. Wojciech Ejsmond, outros bebês mumificados já foram identificados na tumba de Tutancâmon. Contudo, é a primeira vez que cientistas encontram tecidos moles (um feto) preservados em uma múmia. Vale ressaltar que o processo de mumificação removia a maioria dos órgãos.

Conforme o artigo publicado, a preservação do bebê aconteceu por causa de um processo químico incomum. Basicamente, o feto ficou “em conserva”, assim como os alimentos, podendo se manter ao longo do tempo no corpo da mãe.

Processo de conservação

Da mesma forma que o picles, o bebê ficou em um ambiente ácido ainda dentro do útero. Segundo co-diretor do projeto, Ożarek-Szilke, durante o embalsamento os corpos eram cobertos com natrão, um dos primeiros agentes dessecantes já utilizado. Sendo a composição desse sal: carbonato de sódio, bicarbonato de sódio e sulfato de sódio.

Primeiramente, ocorria a remoção dos órgãos e o preenchimento das cavidades com o sal de natrão, preservando os tecidos moles. Na sequência, envolviam o cadáver com lama do Nilo e panos secos.

team 2
Equipe de bioarqueórgolos na investigação da múmia grávida. Imagem: Warsaw Mummy Project

Conforme as conclusões do artigo, o natrão garantiu a manifestação de ácido fórmico e outros compostos no corpo da mulher, sendo esse ambiente mais ácido no útero o responsável pela preservação do feto.

Essa mudança na acidez e alcalinidade, variação do pH, permite grandes modificações nos processos orgânicos do corpo humano. Sendo o pH medido pela presença de hidrogênios e hidroxilas numa solução aquosa, portanto, quando mais hidrogênio menor o valor de pH.

scans 1
Imagens da múmia grávida e a revelação do feto preservado. Imagem: Warsaw Mummy Project

Por isso que o ambiente de menor pH no útero da grávida garantiu, além da preservação, mudanças químicas no feto. Ou seja, ocorreu “secagem”, em termos mais técnicos uma mineralização, dos ossos do bebê.

Raramente as tomografia computadorizada (CT) revelam ossos dos fetos assim. Contudo, para Szilke foi o conjunto do processo de “conserva” e da mineralização que garantiram a visualização do bebê na CT.

Compartilhar