Há 65 milhões de anos, um meteoro do tamanho do monte Everest atingiu o México e pôs fim à era dos dinossauros. Contudo, apesar de 80% de todas as espécies terem morrido no momento ou logo em seguida ao impacto, aves, mamíferos, répteis e outros animais conseguiram resistir. Pesquisadores agora podem ter descoberto porque as aves sobreviveram ao cataclismo.
De cara vale ressaltar que as aves são dinossauros. Esse grupo de animais modernos descendeu dos terópodes, uma subordem de dinossauros que engloba os tiranossauros, por exemplo. Evidentemente, esse processo de diferenciação aconteceu ao longo de alguns milhões de anos.
Fato é que as primeiras aves (e mamíferos também) já existiam muito antes do meteoro de Chicxulub acabar com a festa dos dinos. Ou seja, as aves sobreviveram porque tinham alguma característica diferente dos dinossauros para tanto.
Segundo uma nova pesquisa, publicada no periódico Science Advances, essa característica era provavelmente o cérebro.
Há alguns anos, pesquisadores descobriram o fóssil do crânio de um pássaro do período Cretáceo, que viveu entre 87 e 82 milhões de anos atrás. Esse fóssil, diferente da grande maioria dos demais pássaros do Mesozoico, possuía a estrutura tridimensional do seu crânio bastante conservada.
Isso é raro porque pássaros têm, em geral, ossos ocos e frágeis, que raramente se conservam de uma forma 3D. Análises de raio-X mostraram, então, que o telencéfalo do animal – chamado de Ichthyornis – era bastante parecido com o dos dinossauros. Isso, portanto, não acontece com as aves modernas.
Consequências de um cérebro diferente dos dinossauros
Os Ichthyornis eram ancestrais bastante próximos das aves. Contudo, seu cérebro ainda apresentava um telencéfalo muito parecido com o dos dinossauros, menor e menos desenvolvido. Já as aves modernas têm um telencéfalo gigante, e essa estrutura também tem relação com o voo.
Tendo isso em vista, portanto, o autor Chris Torres conclui, em um e-mail ao LiveScience, que “Aqueles grandes cérebros evoluíram no ancestral dos pássaros viventes [hoje].” Assim, um ancestral comum posterior ao Ichthyornis pode ter desenvolvido esse cérebro maior e o passado às linhagens de pássaros que vivem até hoje.
A relação disso com a extinção, é de que o telencéfalo maior também está associado à plasticidade do comportamento. Ou seja, provavelmente as aves sobreviveram porque conseguiram se adaptar mais rápido a ambientes que estavam mudando muito rápido.
Essa característica pode ter sido o motivo de sobrevivência de outros organismos também além das aves. Além do mais, a grande maioria dos sobreviventes do cataclismo tinham tamanhos bastante reduzidos. Isso pode ter ajudado na procura por abrigo e na demanda por alimento e água.
Vale ressaltar que, em questão de dias, o planeta virou um caos após o impacto do meteoro. Aqueles organismos que não foram imediatamente vaporizados pela explosão acabaram tendo que lidar com uma onda de choque massiva, terremotos, vulcões e um inverno nuclear de alguns milhões de anos.
Em condições tão escassas, um cérebro mais adaptável e plástico pode certamente ter dado uma ajudinha.
A pesquisa está disponível no periódico Science Advances.