A viagem e possível colonização de Marte nas próximas décadas e séculos está batendo à nossa porta. Contudo, em um ambiente tão diferente de nossa terra natal, os colonizadores podem ter de enfrentar um problema fúnebre e curioso. Afinal, precisamos saber como corpos humanos vão se decompor em Marte.
Aqui na Terra, a decomposição é uma coisa tão natural que mal pensamos nela – a não ser quando um cheio podre chega aos nossos sentidos. Acontece que, apesar de nojenta, a decomposição de cadáveres de animais é essencial para a reciclagem dos nutrientes essenciais do ecossistema terrestre.
Naturalmente, a decomposição acontece por meio de agentes decompositores. Dentre eles estão insetos, bactérias, fungos e mais alguns organismos. Estes, por conseguinte, se aproveitam dos nutrientes dos corpos em decomposição e, de quebra, quebram moléculas orgânicas e as liberam novamente no ambiente.
A níveis mais macroscópicos, os insetos irão comer restos de matéria orgânica – como as moscas bem o fazem – e defecar compostos digeridos que outros organismos podem usar. Por isso mesmo o processo de um corpo se decompor em Marte é tão complexo.
Primeiro, não há insetos, fungos ou bactérias em Marte. Segundo, mesmo que levemos estes organismos para lá, a atmosfera do planeta vermelho tem muito pouco oxigênio para que eles se mantenham vivos.
Ademais, quando um animal morre, o processo de autólise começa. Nesse estágio da decomposição, as enzimas das próprias células passam a matar os tecidos que sobraram, devido à falta de recursos e nutrientes.
Ao invés de se decompor em Marte, um corpo pode virar uma múmia
Assim, similar àquilo que acontece em turfeiras e geleiras, os cemitérios do futuro de Marte podem acabar cheios de múmias marcianas.
Como dito, a atmosfera de Marte tem pouquíssimo oxigênio. Precisamente, apenas 0,16% de oxigênio, contra 95% de gás carbônico. Assim, a maioria dos microrganismos decompositores simplesmente iria morrer sem completar sua função. Algumas bactérias anaeróbicas poderiam sobreviver, mas elas levariam muito tempo para decompor um corpo e acabariam também mortas.
Além da falta do gás oxigênio, Marte também é um planeta frio, com temperaturas atingindo 125°C negativos. Temperaturas tão baixas, por conseguinte, fazem com que a água do corpo congele ou mesmo gaseifique rapidamente. Isso causa uma pausa indefinida na autólise das células e evita ainda mais a decomposição.
Por esse motivo, é provável que um corpo mal pudesse se decompor em Marte tranquilamente.
As turfeiras citadas acima também são famosas por conservarem múmias milenares com detalhes incríveis. Isso porque, assim como Marte, estes pântanos têm níveis muito baixos de oxigênio e temperaturas beirando o 0°C. Geleiras, evidentemente, passam pelo mesmo processo, conservando carcaças de animais de milhares de anos de idade.
Assim, cabe à próxima geração de cientistas e colonizadores encontrar um meio de decompor em Marte nossos mortos, especialmente se tivermos grandes populações por lá um dia. Uma alternativa é decompor os corpos em câmaras com oxigênio e organismos decompositores – o que geraria também adubo.
A cremação já não seria tão eficiente, uma vez que são necessárias altas temperaturas por diversas horas. Ou seja, um gasto desnecessário de combustível. Como alternativa, podemos manter os cemitérios de múmias marcianas.