De buracos negros e supernovas a todo tipo de planeta, a ficção científica não poupa seus leitores ou espectadores de uma variedade de objetos celestes. Ou então, de descobertas científicas. Mesmo, aliás, que ainda não tenham sido realmente descobertas. É o caso da obra do escritor Júlio Verne. O autor, em sua grande criatividade e interesse científico, antecipou muitos dos avanços de anos adiante de sua vida. Mais celebremente, o submarino e a viagem à Lua. Também, contudo, apresentou ideias semelhantes à Internet, computadores e até mesmo videochamadas. E, acredite, tudo isso no século XIX.
O popular autor francês, porém, não está sozinho em suas previsões. Filmes e séries como Star Trek, 2001: Uma Odisseia no Espaço e os escritos de Isaac Asimov são conhecidos como ficção científica “pesada” (do inglês, “hard sci-fi”). O motivo é porque dão atenção extra aos detalhes científicos e à precisão de certos conceitos. Ou seja, há liberdade criativa, mas dentro de uma certa plausibilidade. Por isso, sempre têm presença garantida em listas de obras do passado que previram o futuro.
Contudo, mesmo trabalhos como Star Wars, que dão mais atenção a batalhas, mitologias e disputas políticas do que conceitos científicos reais, podem trazer antecipações interessantes do que ainda virá. É o caso de Tatooine, lar do protagonista Luke Skywalker. O planeta chamou a atenção dos fãs por orbitar duas estrelas a mesmo tempo. O primeiro exoplaneta, ou seja, planeta fora do Sistema Solar, contudo, só foi descoberto nos anos 90. E um pouco depois disso, o primeiro planeta como Tatooine. Isto é, décadas depois do início da série de filmes. De qualquer forma, esses objetos, chamados circumbinários, agora não são mais novidade. Mas outros, os circumtriplos, podem ser.
Caminhando entre estrelas
Observando os pequenos pontinhos brilhantes no céu, podemos não imaginar que há muito mais ali do que parece. Há, por exemplo, outros tipos de objetos como galáxias e nebulosas, algumas visíveis até mesmo por um telescópio amador. Mas há também estrelas duplas, ou binárias, como tecnicamente são chamadas. Nesses casos (e quando não é apenas uma ilusão visual), ambas orbitam em torno do mesmo centro de massa, se influenciando mutuamente pela gravidade. E esses sistemas, na verdade, são os mais comuns. A maioria das estrelas que vemos no céu são binárias. E isso apenas no mínimo. Também podem ser sistemas triplos, quádruplos e assim por diante. As binárias, contudo, acabam por ser as fontes mais práticas de informação, porque a solução matemática de sua interação gravitacional é mais simples.
Ademais, se há estrelas, também pode haver planetas. É o caso de praticamente uma centena de sistemas estelares. Neles, as órbitas dos planetas são classificadas como de tipo S (de satélite) ou P (de planeta). O primeiro consiste no planeta estar orbitando apenas uma das estrelas. Isto é, acaba por ignorar a existência da outra estrela, a grosso modo. Já no segundo, o planeta orbita ambas as estrelas ao mesmo tempo. Esse é o caso dos planetas circumbinários.
A solução do novo planeta
Na constelação de Órion, a 1300 anos-luz da Terra, está o sistema estelar GW Ori. É um sistema triplo, envolvido por um disco de gás e poeira. A característica é comum em sistemas com formação de planetas, mas nesse caso, o disco é bem mais excêntrico do que o normal. Isso porque, além de ser inclinado em 38 graus, é dividido em duas partes, com uma lacuna no meio. Uma possível explicação diz que o torque (uma espécie de “força de giro” na física) das estrelas teria varrido parte do disco. Um artigo publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, contudo, tem algo diferente a dizer.
O trabalho sugere, por simulações numéricas, que o disco não é viscoso o suficiente para a hipótese fazer sentido. A outra possibilidade, portanto, ganha força. Isto é, de que o espaço vazio, na verdade, seria causado por um planeta orbitando as três estrelas ao mesmo tempo. Ou seja, assim como ocorre com os planetas circumbinários. Nesse caso, contudo, sendo circumtriplos. Novas observações planejadas para o telescópio ALMA e o Very Large Telescope, no Chile, podem ajudar a confirmar a existência do planeta. Se isso realmente ocorrer, irá reforçar a ideia de que a formação de planetas é bastante comum. Tão comum, aliás, que pode ocorrer em sistemas bizarros como sistemas triplos. E então, por que não também em quádruplos, quíntuplos ou mesmo sêxtuplos?