Em 2001, paleontólogos amadores encontraram um fóssil de 70.000 anos de idade que pertencera a um hominídeo. Estudos posteriores, em 2009, mostraram que o indivíduo era um neandertal com um tumor logo acima da sobrancelha. Agora, especialistas reconstruíram a face do neandertal, chamado Krijn, bastante sorridente.
De acordo com a pesquisa citada acima, a parte superior esquerda do crânio de Krijn – a única encontrada – é o fóssil mais antigo de um neandertal da Holanda. Para além disso, Krijn é o primeiro neandertal com um tumor do tipo em registro.
O pequeno tumor, aliás, era benigno, um Cisto Epidermoide Intradiploico. Esse tipo de cisto geralmente não causa problemas fatais, e não se sabe ao certo os efeitos da doença no neandertal. Ainda assim, Krijn pode ter tido desmaios, dores e outros problemas em decorrência do cisto.
Apesar disso, no entanto, o neandertal com um tumor recebeu uma retratação bastante tranquila, com um sorriso contagiante, como é possível conferir nas imagens deste post. O trabalho foi feito pelos irmãos Kennis, fundadores da Kennis & Kennis Reconstructions. Os dois, aliás, são especialistas em arte paleo-antropológica, tendo feito a reconstrução da múmia de Ötzi.
Krijn era bastante jovem quando morreu, de acordo com pesquisadores, e o tumor deixou uma pequena região afundada em seu crânio que permitiu a identificação. Sabendo disso, ademais, os irmãos Kennis utilizaram o maxilar de um outro neandertal também jovem como base para a reconstrução de todo o busto de Krijn.
Além disso a dupla de especialistas também se baseou em comparações de dados de diversos crânios de neandertais encontrados ao redor do planeta. O trabalho todo incluiu várias fases, desde a reconstrução dos ossos e músculos até a inserção de cabelos e cor da pele. Para isso, inclusive, os Kennis se basearam nas pesquisas mais recentes sobre essas características nos neandertais.
Onde viveu este neandertal com um tumor
Este fóssil, ao contrário da maioria dos outros neandertais, foi encontrado no mar, a pelo menos 15km da costa da Holanda. Isso não porque o hominídeo tenha morrido nadando ou navegando, mas sim porque ele viveu em uma área que hoje está submersa pelo Mar do Norte.
Doggerland foi uma ponte de terra que existiu entre o Reino Unido e a Europa Continental durante boa parte do Pleistoceno. À época, esta região foi lar para cavalos selvagens, rinocerontes, mamutes e, claro, neandertais.
De acordo ainda com análises do fóssil de Krijn, este neandertal era bastante robusto em sua composição corporal, quase completamente carnívoro. Ainda assim o hominídeo não apresentava indícios fortes de frutos do mar em sua dieta, a partir dos isótopos do fóssil de seu crânio.
“Felizmente, é uma peça muito distinta,” afirma Adrie Kennis, um dos responsáveis pela reconstrução, em uma entrevista, disponível no vídeo abaixo. “Ela inclui um osso da sobrancelha bastante redondo e pronunciado. Só Neandertais tinham estes ossos.”
Ambos o fóssil e o busto sorridente de Krijn estarão em uma exposição do Museu Nacional de Antiguidades da Holanda, nomeada Doggerland. A exposição estará disponível até o dia 31 de outubro.
A pesquisa está disponível no periódico Journal of Human Evolution.