Os cangurus em zoológicos e santuários usam a linguagem corporal para pedir ajuda aos humanos, assim como os cavalos e os cães. Isso sugere que mesmo os animais selvagens podem aprender a se comunicar entre espécies apenas por estarem próximos de humanos.
O que derruba teorias anteriores sobre a capacidade dos animais de se comunicarem com humanos ser resultante da domesticação, diz Alan McElligott, da City University de Hong Kong.
Atualmente, cinquenta milhões de cangurus – uma família de animais que nunca foi domesticada – vagam livremente em grupos pela Austrália. No entanto, milhares desses marsupiais vivem em zoológicos, parques e santuários para fins educacionais ou de proteção.
Assim, McElligott e seus colegas estudaram 16 cangurus de três subespécies diferentes que viviam em cativeiro na Austrália.
Estudo feito com os cangurus
Os cientistas começaram os testes treinando os cangurus para encontrar petiscos saborosos como pedaços de cenoura, milho e batata doce em uma pequena caixa. Portanto, foram usados métodos semelhantes aos utilizados em estudos anteriores com cavalos, cães e cabras.
Em seguida, eles fecharam essa caixa de uma forma que impossibilitou a abertura dos cangurus e observaram a resposta dos animais. Como suas contrapartes domésticas em experimentos anteriores, os cangurus recorreram de forma consistente a um humano próximo em busca de ajuda.
McElligott explicou que os cangurus olhavam diretamente para o seu rosto, como um cachorro ou cabra faria, e de volta para a caixa. E alguns até se aproximavam e coçavam o seu joelho como um cachorro apalpando para chamar a atenção. Logo, esse comportamento ocorreu em toda a gama de subespécies.
Ou seja, desde os tipicamente “amigáveis” cangurus cinzentos ocidentais (Macropus fuliginosus fuliginosus), aos cangurus cinzentos orientais geralmente mais “nervosos” (Macropus giganteus) e os cangurus vermelhos (Macropus rufus). Assim, McElligott ficou realmente chocado, referindo-se às espécies orientais menos dóceis. Segundo ele, não foi nem pensado passar por um protocolo de treinamento com esses animais.
Vivência em grupos sociais
Uma hipótese levantada, embora pouco se saiba sobre o comportamento social e a cognição dos cangurus, é que seria possível que o fato de viver em grupos sociais os torne mais propensos a buscar ajuda. Mesmo que seja alguém fora de sua espécie, diz McElligott.
Agora, se isso significa um ato dos animais selvagens vivendo em grupos sociais de pedido de ajuda aos humanos quando eles estiverem familiarizados conosco, ainda não se sabe, ele ressalta.
O que se sabe até o momento é o fato desses animais trocarem olhares com as pessoas durante uma tarefa problemática sem solução, uma das formas consideradas de exibição. Frequentemente, o comportamento é interpretado como uma tentativa de comunicação intencional referencial.
Concluindo, dez dos onze cangurus testados agiram dessa forma e, realmente, desafiaram a noção de que esse comportamento resulta da domesticação. E nove dos dez cangurus apresentaram as alternâncias de olhares entre a tarefa insolúvel e o experimentador.
Enfim, os pesquisadores propuseram que a ocorrência potencial desses comportamentos exibidos em relação aos humanos foi subestimada, devido ao foco estreito em animais domésticos.
Estudo publicado na The Royal Society.