A Via Láctea ajuda e depois rouba pequenas galáxias

Felipe Miranda
Assim se parece a Via Láctea a partir da Terra. Aquelas duas manchas brilhantes à esquerda são as Núvens de Magalhães, duas galáxias anãs que orbitam a Via Láctea. (ESO/S. Brunier).

A Via Láctea é como uma incubadora de startups – mas que depois destrói essas startups que ela mesma criou. Um estudo publicado ainda somente como preprint no arXiv, conduzido pelo astrônomo Masashi Chiba, da Universidade Tohoku e seu aluno Takahiro Miyoshi sugere que a nossa galáxia ajuda algumas protogaláxias a surgir, mas logo depois a Via Láctea rouba essas pequenas galáxias.

Os cientistas conhecem aproximadamente 60 galáxias orbitando a Via Láctea. Das 60, um quinto são galáxias anãs esferoidais. Cada uma dessas pequenas galáxias brilha uma pequena fração do que a Via Láctea – entre 0,0005 a 0,1% do brilho de nossa galáxia. Isso porque a Via Láctea nem é uma galáxia muito grande. Então essas anãs são realmente pequenas, além de bastante difusas.

Em resumo, galáxias formam-se principalmente por estrelas. As estrelas, por sua vez, constituem-se de gases que outrora pairavam pelo espaço, principalmente o hidrogênio, o elemento mais simples e mais abundante de todo o universo. 

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‘Dwarf Draco’, uma das Galáxias Anãs que orbitam a Via Láctea. (NASA / Hubble).

Sequestro

O que Chiba e Miyoshi sugerem é que as pequenas e fantasmagóricas anãs esferoidais brilharam pela primeira vez ao se aproximar da Via Láctea. De alguma forma, inicialmente a gravidade de nossa galáxia as ajudou. No entanto, logo isso mudou. As anãs não pagaram o empréstimo e perderam tudo na hipoteca. A Via Láctea sugou a matéria prima das anãs. 

Para concluir isso, a dupla estudou sete galáxias anãs esferoidais que orbitam a Via Láctea. Mas medir a movimentação e a órbita das galáxias, eles utilizaram dados da sonda Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA). A agência lançou Gaia em 2013 justamente para observar estrelas. A missão possui como ideia principal compilar, catalogar e mapear as estrelas da Via Láctea para estudar a composição e evolução da galáxia.

As órbitas são elípticas. Uma elipse é como um círculo achatado. Portanto, os corpos nunca estão à mesma distância um do outro em todos os pontos das órbitas. Além disso, a Via Láctea não está no centro da elipse, como estaria em um círculo. Na verdade, ela permanece em um dos focos da elipse. Dependendo do quão excêntrica (achatada) é a órbita, a distância entre elas se multiplica por um fato de várias unidades. Além disso, como as distâncias são muito grandes, as escalas de tempo também são consideravelmente grandes.

E a dupla percebeu algo interessante. Ao comparar a evolução das galáxias anãs esferoidais com suas órbitas, eles descobriram que há uma relação direta entre a aproximação das galáxias com a Via Láctea e a formação de estrelas. “Descobrimos que há uma coincidência muito boa entre o momento da primeira queda do satélite [em direção à Via Láctea] e o pico na história da formação de estrelas”, diz Chiba ao Science News.

Exemplos de como a Via Láctea Láctea rouba pequenas galáxias

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A NGC 3521 também sofreu nas mãos da Via Láctea. (Hubble Archive).

Um exemplo é a galáxia de Draco. 11 bilhões de anos atrás, ela se aproximou muito da Via Láctea, e formam várias estrelas naquele período. No entanto, depois disso, o pico passou. É plenamente possível traçar essas linhas temporais. Diversos métodos permitem datar estrelas e, dessa forma, entender o passado dos aglomerados. 

E nem precisamos ir tão distantes no tempo. Há 2 bilhões de anos, quando a vida já pisava pela Terra, a galáxia anã Leão I (NGC 3521) se aproximou de nosso território. Da mesma forma, ela também sofreu um boom de produção de estrelas. No entanto, logo a Via Láctea roubou sua matéria prima, e desde então a formação de estrelas é extremamente baixa.

Do mesmo modo, quem permaneceu distante manteve sua matéria. Todos os exemplos de galáxias anãs que não se aproximaram muito da Via Láctea analisados, mantiveram boa parte de seu material; o suficiente para ainda manter uma produção substancial de estrelas. 

O estudo está disponível como preprint no arXiv. Com informações de Science News.

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