Pele humana com cabelo foi criada com sucesso em laboratório

Erik Behenck
Imagem de uma célula epitelial humana em desenvolvimento com folículos capilares. Foto: Jiyoon Lee, Hospital Infantil de Boston

Durante mais de quatro décadas pesquisadores tentaram reconstruir em laboratório algo parecido com pele humana. O objetivo era ajudar nos tratamentos de queimaduras e até mesmo para testar produtos cosméticos, evitando testes em animais. Esse dia chegou, finalmente uma pele humana com cabelo foi criada com sucesso em laboratório.

A pele é algo muito mais complexo do que um simples conjunto de células. Existe um tecido de nervos, gordura, células de pigmento e muitas outras coisas importantes. Até por isso, temos a capacidade de sentir dor, calor e suar. Além disso, a pele produzida até então carecia de cabelo, o que foi superado em um laboratório de pesquisa.

Uma descoberta por acaso

O objetivo dos pesquisadores era criar células sensíveis a estímulos auditivos, para testar terapias genéticas contra distúrbios da perda auditiva e do equilíbrio. Assim, em 2018 eles publicaram um artigo sobre pele peluda de células-tronco de camundongos. Então, essa descoberta pode ser considerada um acaso.

O trabalho conduzido pelos pesquisadores da Universidade de Indiana, Karl Koehler testou diversos fatores de crescimento, em várias moléculas. Dessa maneira, descobriram que o tecido da pele se formava junto com o tecido do ouvido interno. Além disso, os folículos capilares cresciam na pele cultivada.

“Primeiro tentamos nos livrar das células da pele como uma erva daninha”, brinca o pesquisador. “Mas depois que vimos o valor científico da pele cabeluda, mudamos de tática, tentando remover os organoides do ouvido interno em favor do crescimento da pele”, completa ele, que é coautor da pesquisa.

Finalmente, pele humana criada em laboratório e com suas características

O trabalho foi iniciado por meio de células-tronco pluripotentes, reduzidas a forma embrionária. Na sequência, aplicaram algumas modificações, para obter células de uma pele humana. Assim, a receita permite que duas camadas de pele sejam desenvolvidas de maneira simultânea: a epiderme e a derme.

Levando isso em conta, a interação entre elas promove o aparecimento de folículos capilares. Quando chegou no 70º dia, o cabelo foi empurrado para a superfície, mesma fase em que o cabelo começa a aparecer em fetos. Além disso, a amostra de pele tem melanócitos, que participam da coloração da pele e do cabelo, assim como gordura e nervos.

A pele humana com cabelo criada em laboratório pode ajudar contra calvície?

A pele foi cultivada por 140 dias e depois foi implantada em camundongos, sendo que 55% deles desenvolveram pelos de 2 a 5 milímetros. Além disso, quando os pesquisadores compararam a pele transplantada com a pele humana real, identificaram várias semelhantes.

Aliás, o fato principal foi o desenvolvimento de glândulas sebáceas, que atuam na produção de sebo, contribuindo com a película lipídica que protege a pele. Assim, a pele humana com cabelo foi criada com sucesso em laboratório.

Conforme Karl Koehler, é provável que “gere um número quase ilimitado de folículos capilares para transplante”. Mas, esse ainda é um sonho bem distante, conforme alertam os autores, ainda assim, seria um sonho para qualquer cirurgião. Assim, dentro de alguns anos quem sabe exista a produção de folículos capilares personalizados para cada indivíduo.

O estudo foi publicado na Nature, acesse para conferir.

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