A Floresta Amazônica tem presenciado números crescentes, ano a ano, de queimadas e derrubadas de árvores. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo brasileiros, compôs uma das análises mais completas do efeito das queimadas sobre a biodiversidade de espécies ameaçadas amazônicas.
Segundo a pesquisa, publicada no periódico Nature, em torno de 85% de todas as espécies ameaçadas da Amazônia tiveram contato queimadas em seus hábitats naturais. Vale ressaltar que 610 espécies amazônicas do estudo recebem a classificação de ameaçadas pela IUCN.
Além disso, a pesquisa também mostrou que até 190.000 km² da Amazônia sofreram drasticamente com queimadas e derrubada de árvores desde 2001. Essa área, vale exemplificar, quase atinge o tamanho do estado do Paraná inteiro.
Para compor uma análise tão complexa, contudo, os pesquisadores precisaram cruzar milhares de dados coletados nas últimas décadas. Isso porque seria praticamente impossível acompanhar todas as espécies antes e depois das queimadas.
“[…] Nós não sabemos como as queimadas estão impactando a biodiversidade ao longo da Bacia Amazônica,” afirma Xiao Feng, um dos autores da pesquisa, ao Science News. “[A Amazônia] é uma área gigante, e é geralmente impossível para pessoas irem lá e contarem o número de espécies antes da queimada e depois da queimada.”
Assim, a equipe criou mapas de hábitats de mais de 11 mil espécies de plantas e mais de 3 mil espécies de vertebrados. A equipe então cruzou estes dados com mapas de desmatamento e queimadas no território amazônico entre 2001 e 2019. A conclusão estatística é que algo entre 77.3% e 85.2% das espécies ameaçadas da Amazônia tiveram contato com queimadas nesse período.
Avanço do desmatamento e espécies ameaçadas
Um dos maiores problemas que ameaça a Amazônia é burocrático, uma vez que a regulamentação do território é muito difusa e, por vezes, imprecisa. Isso facilita o trabalho de grileiros e fazendeiros ilegais, por exemplo, na derrubada de árvores.
Acontece que, quanto mais fragmentadas ficam as bordas da floresta, mais fácil para o desmatamento chegar a regiões mais profundas e essenciais do ecossistema. De acordo com a pesquisa, mapear as espécies ameaçadas é um processo essencial para proteger a Amazônia. Isso porque, vale lembrar, o mantimento da floresta em si depende destas espécies.
Além do mais, diversas pesquisas vêm mostrando que a Amazônia está se aproximando de um ponto sem volta. Ou seja, a partir de certo ponto de desmatamento, a floresta fica incapaz de se recuperar e tende a se degenerar cada vez mais. Deste modo a Amazônia toda pode virar uma grande savana nas próximas centenas de anos.
Os impactos da perda da diversidade de espécies ameaçadas, bem como das não ameaçadas, ainda não estão evidentes. Contudo, um dado é certo: as consequências impactam diretamente milhares de vidas humanas.