Connect with us

Comentário & Opinião

Vida 3.0 e o ser humano na era da inteligência artificial

Published

on

O livro “Life 3.0: Being Human in the Age of Artificial Intelligence” (2017), do físico e professor do MIT, Max Tegmark é uma relevante referência para a discussão sobre os impactos da Inteligência Artificial (IA), sobre a dinâmica econômica do mundo e sobre as possíveis reconfigurações da noção tradicional do ser humano.

O título da obra refere-se a uma terceira fase da história evolutiva. Por quase 4 bilhões de anos, tanto o hardware (corpos) quanto o software (capacidade de gerar conhecimento) foram consertados pela biologia. Nos últimos 100.000 anos, o aprendizado e a cultura permitiram aos humanos adaptar e controlar seu próprio software. Na terceira fase iminente, o software e o hardware podem ser redesenhados. Isso, de certa forma, pode soar como transumanismo (o movimento para reengenharia de corpo e cérebro), mas o foco de Tegmark é a IA, que pode complementar as capacidades mentais com dispositivos externos.

Advertisement

Desta forma, o livro aprofunda a discussão sobre a IA e a condição humana e levanta questões essenciais da atualidade:

1) Como garantir o crescimento da prosperidade através da automação, sem deixar as pessoas sem emprego e renda e sem aumentar a exclusão social?

Advertisement

2) Como garantir que os futuros sistemas de IA façam o que queremos, com eficiência, sem falhas e sem serem pirateados?

3) Como evitar corrida armamentista em armas autônomas letais (robôs assassinos)?

Advertisement

4) A IA ajudará a humanidade a florescer como nunca antes, ou as máquinas inteligentes (robôs sapiens) eventualmente nos superarão em todas as tarefas, e até mesmo, nos substituam completamente?

Em relação à primeira questão, o autor dialoga com aqueles que consideram que a IA trará uma benção econômica, com um enorme crescimento da produtividade e a criação de novos tipos de emprego para substituir os antigos que serão eliminados e aqueles que consideram que haverá um aumento do desemprego tecnológico e aumento da anomia.

Advertisement

Em relação à segunda questão, há sempre o risco de algum dispositivo tecnológico cometer falhas e provocar acidentes. Ele lembra que em 1979, Robert Williams, um trabalhador de uma fábrica de automóveis Ford em Michigan, tornou-se provavelmente o primeiro ser humano a ser morto por um robô, quando o braço robótico o atingiu na cabeça. O primeiro acidente fatal de um carro elétrico e autônomo aconteceu no ano passado. Mas, o autor considera que a tendência geral, no entanto, é para que a automação possa gerar fábricas e autoestradas substancialmente mais seguras. O número de acidentes industriais nos EUA caiu de 14.000 em 1970 para 4.821 em 2014. Os veículos sem motoristas (e sem volantes) poderiam eliminar cerca de 90% das mortes atuais.

LEIA TAMBÉM: A escala de Kardashev — os tipos de civilizações I, II, III, IV e V

Advertisement

Em relação à terceira questão, Tegmark vê riscos reais das máquinas autônomas letais (robôs assassinos) provocarem grandes danos e serem usadas nas guerras que existem de forma real ou potencial no mundo. Ele defende uma urgente regulamentação do uso destas armas.

Em relação à quarta questão, o autor vê pelo menos três cenários: a IA pode ser um fator de progresso e bem-estar para a humanidade, mas também pode levar à escravidão ou até mesmo a extinção da humanidade. O futuro está aberto, pode ocorrer uma “utopia libertária” ou um “Big Brother da IA”.

Advertisement

Max Tegmark não toma partido pessoalmente de nenhuma dessas ideias específicas. Ele procura mostrar as alternativas e deixar que os leitores estabeleçam suas próprias ideias. Entretanto, ele chama a atenção dos pesquisadores da robótica e da IA sobre a complexidade dos temas envolvidos.

Mas como tecnólogo que trabalha na área da IA, a mensagem final do autor é bastante favorável à elite tecnológica que trabalha com inteligência artificial. O fato é que existem muitos desafios pela frente e é importante que as pessoas possam acompanhar essa discussão e possam participar das decisões que vão reconfigurar o futuro da civilização.

Advertisement

É compreensível que as pessoas que trabalhem com IA tenham uma visão mais otimista. Mas personalidades importantes como Elon Musk e Stephen Hawking alertam para os perigos da Inteligência Artificial (Alves, 02/08/2017), especialmente quando se considera o seu uso para fins militares.

No dia 01 de setembro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que quem alcançar em primeiro lugar um avanço significativo no desenvolvimento da inteligência artificial virá a dominar o mundo. Ele disse que o desenvolvimento da IA levanta “oportunidades colossais e ameaças que são difíceis de prever agora”.

Advertisement

Ou seja, a Revolução 4.0 e a Vida 3.0, prometem muita coisa boa, mas, na prática, podem desaguar numa disputa desastrosa. Como disse Stephen Hawking: “O desenvolvimento da inteligência artificial total poderia significar o fim da raça humana”. O certo é que tudo é impermanente e crescem as incertezas.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Advertisement
Advertisement

Copyright © 2025 SoCientífica e a terceiros, quando indicado.