Uma criatura estranha pode mudar a história da evolução dos artrópodes

Cristina Dyna
Fóssil de Kylinxia zhangi. (D.-Y. Huang & H. Zeng - Live Science)

Uma criatura estranha semelhante a um camarão que viveu no período cambriano foi encontrada pelos cientistas na região da China. Este antigo animal abre portas para explicações sobre a evolução dos artrópodes.

A estranha criatura

O estranho animal aquático tinha características bem peculiares: uma cabeça fundida em um escudo com cinco olhos compostos; 15 tagmas articulados com estruturas pontiagudas e grandes “braços” dobrados para cima.

No entanto, algumas dessas características existem em outros fósseis de antepassados antigos dos artrópodes. Porém, nunca foi visualizado todas essas estruturas típicas do grupo em um único ancestral.

Os artrópodes representam o grupo animal mais diverso do planeta. O mais importante é que no período cambriano (há 543 milhões a 490 milhões de anos) o grupo cresceu e se diversificou, tornando o mais bem sucedido da biosfera. Entretanto, a forma como esses animais iniciaram sua história evolutiva ainda não está clara para os cientistas.

Segundo o cientista Diying Huang, pesquisador do fóssil e professor do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nanjing (Academia Chinesa de Ciências), os artrópodes da atualidade apesar de diversificados não tem muitas semelhanças com seus ancestrais. Por outro lado, “os artrópodes cambrianos também são complexos, não apenas pela diversidade, mas também pela morfologia, anatomia e morfologia funcional”.

Assim, com a descoberta dessa criatura auxilia os cientistas a compreenderem como os artrópodes viventes no cambriano se relacionaram e evoluíram para as espécies que temos hoje, como insetos e caranguejos.

Uma homenagem à quimera chinesa:  Kylinxia zhangia

Os pesquisadores encontraram seis fósseis da estranha criatura no sul da China em uma região que há registros de datação do início do Cambriano. Então, em homenagem a sua fisiologia estranha, decidiram apelidá-la de Kylinxia zhangia. De acordo com a Live Science a explicação é que kylin” significa uma quimera da mitologia chinesa; “xia” é camarão em chinês e “zhangia” uma homenagem a Yehui Zhang, um dos cientistas da pesquisa.

 criatura estranha
Reconstrução fotográfica do Kylinxia zhangia. (D.-Y. 
Huang e H. Zeng – Revista Inverse)

Como resultado da descoberta os cientistas fizeram análises filogenéticas da evolução da Kylinxia entre os artrópodes. Essa análise pode explicar como ocorreu as relações evolutivas entre os animais existentes na era cambriana. Segundo Huang “eles poderiam ter o mesmo ancestral em uma época anterior.”

Assim, para melhor observar as características evolutivas, olhou-se para os detalhes das estruturas do indivíduo. A boa conservação dos fósseis ajudou bastante, sendo possível enxergar dois grandes olhos na frente dos talos, canal alimentar, glândulas digestivas, tecido nervoso, cordão ventral e até conteúdo intestinal.

Kylinxia e suas possíveis relações evolutivas

As semelhanças das estruturas da Kylinxia com as da classe Radiodonta e Megacheira fazem os pesquisadores acreditarem que essas duas classes herdaram características de um ancestral comum e não de formas evolutivas independentes.

Além de esclarecer as relações com classes de artrópodes cambrianos, inserir a Kylinxia  na árvore evolutiva antiga também explica a evolução dos artrópodes atuais. Pois, de acordo com a revista Inverse, pesquisas anteriores sugeriram que a Megacheira possui apêndices com espinhos que estão relacionados com os Chelicerata (escorpiões e aranhas) e com os animais de antenas que evoluíram para insetos (abelhas e formigas). Dessa forma, os pesquisadores acreditam que todos eles podem ter evoluído de um ser com estrutura parecida.

Entretanto, ainda há um caminho para desvendar, pois os cientistas não sabem quais estruturas surgiram e evoluíram primeiro. Os apêndices espinhosos evoluíram para antenas e depois para pinças? Ou primeiro veio os aparelhos bucais? 

A publicação do artigo com a descoberta da nova espécie aconteceu em 04 de novembro na revista Nature.

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