Tubarões aprendem a roubar comida das redes de pesca por associação

Daniela Marinho
Imagem: MaRabelo/Getty Images

Cientistas especializados em tubarões relataram que essas criaturas marinhas estão se alimentando dos peixes capturados por pescadores no Golfo do México. Eles descobriram que os tubarões aprenderam a associar a presença de barcos com uma fonte de alimento fácil. Esse comportamento adaptativo tem sido observado com maior frequência nos últimos anos.

Segundo Marcus Drymon, cientista da Universidade Estadual do Mississippi, a incidência de tubarões predando peixes pescados aumentou de forma significativa na última década. Drymon destaca que esse fenômeno é preocupante tanto para a pesca comercial quanto para a saúde dos ecossistemas marinhos. O comportamento dos tubarões sugere que eles estão mudando seus hábitos alimentares, o que pode ter impactos profundos na dinâmica do Golfo do México.

Conflito entre pescadores e tubarões

No novo especial da National Geographic, “Sharkfest: Shark Beach with Anthony Mackie”, cientistas investigam ao longo da Costa do Golfo o impacto crescente do conflito entre pescadores e tubarões.

Jasmin Graham, bióloga marinha e fundadora da organização Minorities in Shark Sciences, explica que os pescadores estão competindo diretamente com os tubarões pelos mesmos peixes.

Graham destaca que os tubarões são incrivelmente rápidos em aprender novos comportamentos. “Eles associam o som dos motores dos barcos à comida”, diz ela. “Por isso, começaram a nadar diretamente para os barcos, na expectativa de encontrar alimento. Agora, estamos disputando os mesmos peixes com os tubarões, o que leva à depredação.”

Impactos ambientais

Embora o comportamento seja surpreendente, a predação de tubarões tem um impacto significativo na pesca global, especialmente nos Estados Unidos e na Austrália, onde há uma sobreposição frequente entre tubarões e humanos, resultando em conflitos.

Durante o século XX, as populações de tubarões foram dizimadas pelos humanos, que continuam a matar cerca de 80 milhões de tubarões por ano devido à demanda por suas barbatanas e à captura acidental.

No entanto, em algumas áreas, medidas de proteção permitiram que as populações de tubarões se recuperassem. Ao largo da costa do Alabama, por exemplo, o número de tubarões-touro (Carcharhinus leucas) aumentou cinco vezes entre 2003 e 2020, atribuído pelos cientistas às águas mais quentes que proporcionaram um ambiente propício para a prosperidade dos tubarões.

Pesca recreativa

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Um tubarão dá uma mordida na captura de um pescador na filmagem de “Shark Beach”. Imagem: National Geographic

Com o aumento da pesca recreativa, mais tubarões estão sendo atraídos para perto dos barcos em busca de comida.

Segundo um relatório de dezembro de 2023 do Conselho de Gestão das Pescas do Atlântico Sul, pescadores nos estados do sudeste dos Estados Unidos têm observado mudanças no comportamento dos tubarões.

Desse modo, os relatos apontam que mais tubarões estão circulando e se aproximando das embarcações. Em resposta a essa mudança, muitos pescadores recreativos e comerciais agora preferem operar em áreas mais distantes da costa, buscando evitar danos ao equipamento e proteger suas capturas.

De acordo com Drymon, os “relatórios de pescadores concordam quase unanimemente que a depredação piorou muito nos últimos 5 a 10 anos […] Infelizmente, existe um risco bastante significativo (para os tubarões) em termos de retaliação. Isto foi quantificado através de pesquisas com capitães fretados e pescadores comerciais, dois grupos cujos meios de subsistência são diretamente afetados pela depredação”.

O que está sendo feito a respeito

Para lidar com o problema, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional está atualmente investigando os tubarões-touro e os tubarões-de-areia (Carcharhinus plumbeus), que são frequentemente envolvidos em casos de depredação, e está coletando dados detalhados sobre esses incidentes por meio de aplicativos de relatórios.

Além disso, a agência está explorando soluções para proteger as capturas dos pescadores, como o desenvolvimento de tecnologias de dissuasão de tubarões.

Jasmin Graham comentou sobre o equilíbrio necessário: “Tubarões precisam se alimentar e nós também. Precisamos encontrar maneiras de coexistir e garantir que ambos tenhamos acesso aos recursos.”

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