É bonito ver por baixo o mosaico formado por diversas árvores, geralmente da mesma espécie. A timidez da copa, como é chamada, é o distanciamento entre as copas das árvores, evitando que seus galhos e suas folhas se toquem. O fenômeno ocorre em algumas espécies de árvores e, embora não se saiba a função exata da timidez da copa, acredita-se que sua função é dificultar a propagação de fungos e larvas entre as árvores.
“Assim que o contato físico entre as plantas é limitado, é possível aumentar sua produtividade. Essa é a beleza do isolamento (…): a árvore protege sua própria saúde”, disse ao NatGeo a pesquisadora Meg Lowman, bióloga especializada em dosséis florestais e diretora da Fundação TREE.
Timidez da copa
As observações que levaram ao termo timidez da copa iniciaram-se na década de 192, onde há diversas descrições presentes na literatura científica, relatando como ocorre e supondo algumas hipóteses, que partiam, por exemplo, da falta de luz nesses pontos. No entanto, esses “canais” entre as árvores são tão comuns em todo o mundo que devia haver alguma outra explicação.
Em 1982, o biólogo Francis “Jack” Putz fez uma observação importante enquanto descansava abaixo de siriúbas após o almoço, pronto para uma soneca. Ele percebeu que os ramos de árvores vizinhas se enroscavam e, com o balançar do vento, geravam uma poda. Após essa interação, os canais entre as árvores estavam ali, bastante claros. Rapidamente, Putz ficou instigado com sua observação.
Em 1984, ele e sua equipe publicaram uma pesquisa demonstrando um efeito interessante da timidez da copa. No texto, eles discorrem sobre se esses canais ocorrem principalmente pelo atrito entre os galhos das árvores ou se ocorrem pelo sombreamento.
Isso já não é abordado no texto, mas esse distanciamento protege as árvores de possíveis pragas presentes nas árvores vizinhas.
“As folhas são como os diamantes mais caros de uma árvore — é preciso protegê-las a todo custo”, diz Lowman. “Se um grupo inteiro for eliminado, é um grande baque para a árvore”.
No entanto, não há nada que determine que, de fato, o fenômeno ocorre por alguma razão em especial.
“A natureza é tão variável que às vezes é frustrante tentar explicar até mesmo o que parece ser um padrão óbvio”, disse em um comunicado do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical o pesquisador associado do instituto, Steve Yanoviak.
“Neste caso, ficamos muito satisfeitos em ver que algo tão complicado quanto a diversidade no dossel da floresta tropical poderia ser explicado simplesmente por ver as árvores como ilhas”, completa o pesquisador, que também é presidente da Cátedra Tom Wallace de Conservação da Universidade de Louisville.
Testes de distribuição de insetos
Em 2016, no Panamá, um estudante de doutorado, Ben Adams, orientado pelo já citado Yanoviak, comparou o número de formigas presentes em mais de 200 copas de árvores. O grupo amostral representava mais de 30 espécies de árvores. A pesquisa envolveu 128 espécies de formigas.
Adams percebeu que havia, na média, entre 2 e 20 espécies diferentes de formigas em uma copa de árvore. As árvores conectadas de alguma forma, como cipós, continham, em média, 10 espécies de formigas, enquanto as árvores não conectadas, uma média de 8.
Portanto, não se sabe se há realmente alguma função na natureza que gere os efeitos da timidez da copa, ou se é apenas uma grande coincidência que tenha seus efeitos positivos nas árvores e na distribuição de insetos e pragas por elas. Mas sabe-se que, de fato, o distanciamento das árvores possuem algum efeito positivo.