Supernova destruiu parte da camada de ozônio da Terra em 2022

Francisco Alves
Imagem: Adobe Stock

As explosões de raios gama (GRBs), os eventos mais energéticos do universo, têm sido recentemente objeto de grande interesse da comunidade científica, especialmente à luz de novas descobertas sobre seu possível impacto na camada de ozônio da Terra. Entender esses fenômenos cósmicos e seus efeitos terrestres é fundamental para compreender a fragilidade e a resiliência da atmosfera da Terra.

As explosões de raios gama são jatos intensos de raios gama que emanam de supernovas ou da fusão de estrelas de nêutrons. Essas explosões são incrivelmente poderosas e são consideradas os eventos eletromagnéticos mais brilhantes que se tem conhecimento no universo. Sua descoberta e estudo contínuo proporcionam percepções inestimáveis sobre o funcionamento do cosmos.

Em 9 de outubro de 2022, telescópios detectaram uma explosão de raios gama resultante da explosão de uma supernova a 1,9 bilhão de anos-luz de distância. Esse evento, nomeado de GRB221009A, foi classificado como o GRB mais brilhante já observado na história dos registros.

A camada de ozônio, situada na estratosfera, desempenha um papel fundamental na proteção da Terra contra a radiação ultravioleta (UV) prejudicial. Ela absorve a maior parte dos raios UV do Sol, impedindo que eles causem danos aos organismos vivos e aos ecossistemas da Terra.

Tradicionalmente, a destruição do ozônio tem sido associada às atividades humanas, principalmente ao uso de clorofluorcarbonos (CFCs). No entanto, estudos recentes sugerem que eventos cósmicos como os GRBs também podem influenciar os níveis de ozônio, embora temporariamente.

A explosão de raios gama de 2022 levou a uma descoberta significativa. Os cientistas encontraram uma mudança mensurável nas partículas ionizadas na atmosfera superior, incluindo as moléculas de ozônio. Essa revelação ressalta a interconexão entre os eventos cósmicos e a dinâmica atmosférica da Terra.

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GRB221009A registrado ao longo de 10 horas. Imagem: NASA/Swift/B. Cenko

O GRB causou uma redução temporária do ozônio na ionosfera. A ionosfera, que se estende acima da superfície da Terra, sofreu um aumento acentuado na ionização, levando a uma capacidade reduzida das moléculas de ozônio de absorver a radiação UV.

Simulações mostraram que um GRB dentro da Via Láctea poderia causar danos de longo prazo à camada de ozônio estratosférico, podendo levar a consequências ecológicas generalizadas. Essas simulações ressaltam a importância de compreender e monitorar esses eventos cósmicos.

“O ozônio foi parcialmente reduzido — foi destruído temporariamente”, explicou Pietro Ubertini, astrônomo do Instituto Nacional de Astrofísica em Roma, ao The New York Times.

O pesquisador publicou um artigo na Nature Communications sobre a sua descoberta astronômica. Segundo Ubertini, caso a supernova tivesse ocorrido em uma distância mais próxima da Terra, isso poderia resultar em um evento catastrófico.

Apesar dos efeitos temporários do GRB de 2022, a camada de ozônio demonstrou uma capacidade notável de se reparar. Esse aspecto de autocura é fundamental para manter a estabilidade de longo prazo do escudo protetor da Terra.

Embora os efeitos de GRBs distantes, como o de 2022, sejam mais curiosidades científicas do que ameaças imediatas, é essencial compreender esses eventos. Eles fornecem informações essenciais sobre o possível impacto de fenômenos cósmicos mais próximos, incluindo intensas explosões solares.

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