Reversão do campo magnético trouxe caos na Terra há 42 mil anos

Letícia Silva Jordão

Já é conhecido que o campo magnético mudou ao longo da história. Porém, uma antiga reversão do campo magnético pode ter afinado a camada de ozônio e causado diversos eventos infelizes na Terra há 42 mil anos.

Um novo estudo mostra que na última vez que o campo magnético se alterou na Terra e caiu, ocorreram diversos eventos cataclísmicos que dificultaram a vida no planeta.

Para descobrir mais sobre o evento da inversão do campo magnético, conhecido como excursão de Laschamps, os cientistas estudaram árvores fossilizadas e registros de gelo para desenvolver uma linha do tempo que mostrasse o seu impacto.

Estudo usou anéis de árvores fossilizadas

O estudo sobre a antiga reversão do campo magnético, publicado na revista Science, começou analisando os anéis de diversas árvores kauri que morreram há mais de 41 mil anos. 

O objetivo deles era descobrir a concentração de carbono radioativo que essas árvores possuíam. A lógica disso é bem simples: quando o campo magnético da Terra está fraco, a radiação cósmica faz surgir mais carbono radioativo na atmosfera

Esse carbono acaba aparecendo nos anéis das árvores. Sendo assim, se o nível de carbono radioativo está alto, é porque o campo magnético da Terra está fraco.

Além disso, os anéis das árvores formam um padrão que facilita a previsão anual de eventos do passado, permitindo assim que os cientistas criem uma linha do tempo dessa antiga reversão do campo magnético.

E além das árvores, a equipe comparava o que encontrava nelas com os registros encontrados em núcleos de gelo no solo para assim tirar suas conclusões.

Descobertas sobre a antiga reversão do campo magnético

A partir dos materiais que os cientistas tinham em mãos, foi possível descobrir que enquanto a excursão de Laschamps aconteceu, o campo magnético da Terra operava com apenas 28% da sua força normal.

Além disso, no período entre 41.600 até 42.300 anos atrás, o campo magnético da Terra estava funcionando com apenas 6% de sua força.

Como esse fenômeno ocorreu há 42 mil anos, ele foi nomeado pelos cientistas como Eventos Adams, em homenagem ao escritor Douglas Adams, que escreveu o livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, onde diz que 42 é a resposta para o final da vida.

O sol também estava em baixa atividade

Além da antiga reversão do campo magnético, a Terra também estava sofrendo com os impactos do sol no mesmo período.

Há 42 mil anos, o Sol estava passando por um período de baixa atividade. Isso significa que a heliosfera — um escudo que o sol cria contra os raios cósmicos — estava bem enfraquecido.

Com isso, a Terra passava por um período de duplo risco de radiação cósmica com o campo magnético baixo e o sol em baixa atividade.

Os efeitos desse fenômeno há 42 mil anos

Se estivéssemos passando pelo Evento Adams hoje em dia as coisas seriam bem complicadas, já que o clima espacial influencia o funcionamento de satélites e da rede elétrica.

Mas, há 42 mil anos, este evento “deve ter parecido o fim dos dias”, conforme diz o cientista da Universidade de New South Wales, Chris SM Turney.

Segundo o estudo sobre a antiga reversão do campo magnético, os efeitos do fenômeno no passado poderia ter causado:

  • Uma camada de ozônio mais fina;
  • A aurora boreal ocorrendo próximo ao Equador;
  • Tempestades elétricas fortes;
  • Ar do Ártico atingindo continentes.

Além disso, a antiga reversão do campo magnético também pode ter ocasionado uma maior concentração de radiação ultravioleta na superfície, a extinção de animais grandes na Austrália e também o desaparecimento dos neandertais.

Devido a esse levantamento de informações que o estudo traz, ele acabou sendo muito elogiado na comunidade acadêmica. 

Monike Korte, uma geomagnetista do Centro de Pesquisa Alemão GFZ para Geociências diz que “o maior valor do artigo é que ele apresenta várias ideias que devem ser investigadas mais a fundo”.

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