Uma planta rara da África do Sul, a Ceropegia gerrardii, desenvolveu uma estratégia engenhosa para garantir sua própria polinização: ela atrai moscas chacais imitando o sangue de abelhas. Essas moscas, do gênero Desmometopa, normalmente se alimentam de sangue de insetos, como abelhas mortas, e são atraídas pelo cheiro característico do sangue de abelha.
A descoberta, publicada na New Phytologist, foi feita por Annemarie Heiduk, pesquisadora da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul. Heiduk notou que as flores verdes e discretas da C. gerrardii atraíam quatro espécies de moscas chacais, mesmo na ausência de abelhas feridas. Intrigada, ela decidiu investigar o mecanismo por trás desse fenômeno.
Anos antes, Heiduk havia descoberto que outra planta, a Ceropegia sandersonii, também atraía moscas chacais, prendendo-as em suas flores e depois liberando-as. Essa planta imita o cheiro de abelhas estressadas ou feridas para atrair as moscas. Ao ver as moscas nas flores da C. gerrardii, Heiduk suspeitou que elas também utilizassem uma estratégia semelhante.
Para confirmar sua suspeita, Heiduk e sua equipe coletaram amostras do cheiro das flores e analisaram sua composição química. Em seguida, conectaram microeletrodos às antenas das moscas para medir suas respostas a diferentes moléculas presentes no cheiro das flores. Dessa forma, eles identificaram quais compostos eram percebidos pelas moscas.
Os pesquisadores também descobriram que as flores da C. gerrardii produzem pequenas gotículas em suas pétalas. Ao analisar essas gotículas, eles constataram que continham uma mistura de proteína e açúcar semelhante ao sangue de abelha, conhecido como hemolinfa. Ainda não está claro se as moscas são prejudicadas por se alimentarem desse “sangue falso” em vez do sangue real.
A estratégia da C. gerrardii mostra-se eficaz para sua sobrevivência, uma vez que, quando os pesquisadores impediram as moscas de pousarem nas flores usando sacos de proteção, as plantas não produziram nenhum fruto. No entanto, a C. gerrardii está ameaçada de extinção, com estimativas de apenas 2500 plantas maduras crescendo em pequenas áreas dentro de pastagens ameaçadas por plantas invasoras, incêndios e superpastoreio.
Diante disso, a pesquisa de Heiduk destaca a importância da proteção e conservação dessas espécies. A compreensão dos mecanismos de polinização e das estratégias das plantas pode contribuir para a preservação da biodiversidade e para o desenvolvimento de estratégias de conservação mais eficazes.