Quatro mil anos atrás, alguém escreveu nas paredes de uma mina em Serabit no Sinai as primeiras versões de algo que se espalharia pelo mundo e se tornaria o nosso tão útil alfabeto. A invenção do alfabeto surgiu provavelmente ali, em um templo egípcio. Há diversas formas de se escrever, muito mais antigas do que quatro mil anos, mas me refiro especificamente ao alfabeto ocidental.
A mina é, na verdade, um templo construído através de perfurações nas rochas. Os Egípcios Antigos o fizeram em homenagem à deusa Hathor. Em 1905, um casal de egiptólogos ingleses, Sir William e Hilda Flinders Petrie escavaram o templo pela primeira vez. Ali, então, eles notaram algumas inscrições nas paredes. Essas inscrições se pareciam, um pouco, com os hieróglifos egípcios, mas eram mais simples.
E essas inscrições não eram ancestrais dos hieróglifos. Naquela época, os hieróglifos egípcios já possuíam um milênio de idade. É, na verdade, dessa escrita mais simples que vem o nosso alfabeto atual. Nos milênios que se seguiram, essa escrita influenciou o alfabeto fenício. Em breve, os gregos antigos adotaram o alfabeto fenício, originando o alfabeto grego. Logo isso tudo se espalhou para a Europa e os europeus espalharam pelo mundo durante seu período de imperialismo.
Dentre as inscrições e artefatos, o casal notou uma esfinge, que foi levada para a Inglaterra junto a outros inúmeros materiais arqueológicos. Outro egiptólogo, Sir Alan Gardiner, passou dez anos analisando a pequena esfinge. Em 1916, então, traduziu as letras, que faziam referência ao consorte de Ba’al, um deus de Canaã.
Invenção do alfabeto
Pensa-se, desde que os Flinders Petrie descobriram as inscrições, que elas surgiram com intelectuais egípcios, pessoas de alto nível de conhecimento. Na época, a escrita não era tão democrática quanto hoje, mas reduzia-se à utilização por altos nobres.
E esse é, de fato, o pensamento mais natural, já que esse alfabeto revolucionou a escrita. Os hieróglifos representam coisas e ideias, e não sons, como nossas palavras. E esses novos caracteres, embora inspirados nos hieróglifos, representavam sons. Ao invés de centenas de complexos sinais, duas dezenas de sinais escreveriam qualquer coisa. Apenas focados intelectuais criariam algo assim, não?
No entanto, a egiptóloga Israelense Orly Goldwasser propôs, há um certo tempo, que não foram nobres intelectuais egípcios que criaram esse alfabeto. Na verdade, ela pensa que simples mineiros não letrados o criaram.
Quem realmente criou o alfabeto?
Goldwasser tirou essa ideia a partir de um contexto específico. Em um momento, muitos povos das redondezas migraram para o Egito em busca de oportunidades. Isso inclui, por exemplo, os povos de Canaã (muitos deles eram, também, prisioneiros). Então, muitos desses trabalhadores fascinavam-se com os hieróglifos em homenagem à deusa Hathor, enquanto trabalhavam nas escavações do complexo de templos e na mineração de turquesa. Eles começaram a tentar copiar essas escritas, por isso essas letras se parecem com os hieróglifos, mas de forma muito mais simples.
No entanto, elas eram mais eficientes. Como eles não tinham ideia de como ler os hieróglifos, escreviam de sua forma. Por isso, esse novo alfabeto representa os sons da fala, e não objetos e ideias. O insight para essa explicação, conforme relata a própria Goldwasser em uma matéria no Haaretz, surgiu com as escritas gráficas do alfabeto cananeu na esfinge citada no início do texto. Há, ainda, outras evidências que corroboram tudo isso.
Obviamente, há céticos para essa hipótese para a Invenção do alfabeto, por diversos motivos. Afinal, a história não é uma ciência exata.