Quais animais as mudanças climáticas irão extinguir primeiro?

Mateus Marchetto
Imagem: Depositphotos

Nenhuma espécie vive de forma completamente independente de outros organismos no planeta. Por esse motivo, as coextinções são uma das maiores preocupações dos ecólogos mundialmente. Agora uma nova pesquisa corrobora o risco destes eventos de extinção em cascata para os ecossistemas do planeta.

Segundo a nova pesquisa, publicada no periódico Science Advances, entre 2020 e 2100, a média da redução da biodiversidade local no planeta pode chegar a 17,6%. O estudo ainda aponta um efeito 184% maior na extinção de espécies por conta das relações ecológicas entre diferentes animais.

Vale comentar que a pesquisa leva em conta apenas animais vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, mamíferos e aves, grosso modo). Ou seja, o impacto deve ser muito maior ao se considerar animais invertebrados, que são extremamente mais abundantes no planeta. Essa, inclusive, é uma das ressalvas apontada pelos autores.

Food web of the Venice lagoon
Imagem: Heymans, J.J., Coll, M., Libralato, S., Morissette, L. and Christensen, V. – PLoS One via Wikipedia Commons.

O que é uma coextinção

Como dito acima, organismos vivos dependem de outros organismos vivos para manter sua sobrevivência e abundância. Os integrantes de um ecossistema podem consumir um recurso, de forma a torná-lo menos disponível para outros organismos. Predadores dependem das presas, parasitas dependem de hospedeiros, simbiontes dependem de seus parceiros simbiontes.

Com toda essa conexão entre organismos, a extinção de uma única espécie pode bagunçar toda a dinâmica de um ecossistema inteiro. Isso geralmente torna o sistema biológico mais instável e, consequentemente, as outras espécies ficam mais susceptíveis às variações ambientais e adversidades – o que leva a coextinções.

Para exemplificar, quando uma população de capivaras no Pantanal começa a diminuir, os predadores do topo da cadeia, como as onças-pintadas, têm mais dificuldade em conseguir alimento e prosperar. Assim, menos onças tendem a sobreviver, o que também desestabiliza outras espécies.

image 6
Onça caçando capivara. Imagem: Zig Koch

Espécies de grandes vertebrados serão as mais afetadas pelas coextinções

De modo geral, grandes animais tendem a investir mais tempo em poucas proles. Elefantes, por exemplo, têm apenas um filhote de cada vez, que persiste dependente da mãe por vários anos. Já animais menores normalmente têm muitos filhotes e pouco cuidado parental, o que é uma estratégia favorável em momentos de instabilidade ecológica.

Assim, em um mundo de mudanças climáticas rápidas, as populações de grandes animais podem não ter tempo para criar seus filhotes e manter a própria população antes do declínio.

Outro ponto importante ressaltado pelos autores é a necessidade espacial dos hábitats: animais grandes precisam de grandes espaços ininterruptos de florestas, savanas ou planícies, por exemplo.

raccoon ga8ea1f888 1920
Imagem: Pixabay

Vertebrados com relações de alimentação muito específicas também acabam mais vulneráveis em um cenário de iminente catástrofe climática. Pandas e coalas dependem de apenas um ou dois tipos de plantas para sua alimentação. Se essas plantas se extinguem, lá se vão os pandas e coalas com elas.

Ratos e guaxinins, por outro lado, se alimentam de uma gama enorme de comidas diferentes. Ou seja, se um alimento não está disponível, ainda haverá a disponibilidade de outro. Essa versatilidade também é mais prevalente em pequenos animais, com exceção de espécies endêmicas, por exemplo.

Compartilhar