Pesquisadores em Hong Kong identificaram na segunda-feira o que pode ser o primeiro caso confirmado mundialmente de reinfecção pelo coronavírus.
Essa descoberta levanta questões sobre a durabilidade da imunidade, seja adquirida naturalmente ou com uma vacina.
Reinfecção pelo novo coronavírus
Um homem de 33 anos em Hong Kong foi infectado com o novo coronavírus pela segunda vez, mais de quatro meses após sua infecção inicial, relatam os pesquisadores.
O caso veio à tona quando esse morador passou por uma triagem obrigatória no início deste mês, no aeroporto de Hong Kong, voltando da Europa. O chamado teste PCR deu positivo.
Contudo, foi uma surpresa, porque o homem havia se recuperado da infecção por COVID há quatro meses e meio e presumia-se que já tinha a imunidade, especialmente após um curto período de tempo desde a infecção.
A princípio, seu caso é o primeiro relato confirmado de reinfecção de SARS-CoV-2.
O virologista da Universidade Rockefeller em Nova York e do Howard Hughes Medical Institute, Paul Bieniasz, diz que algumas pessoas poderem ser reinfectadas com o vírus “não é um grande choque”. As pessoas são reinfectadas com os coronavírus que causam o resfriado comum.
Só que algumas pessoas podem não desenvolver uma resposta imunológica forte o suficiente para combater a SARS-CoV-2 uma segunda vez.
Kelvin Kai-Wang To, microbiologista da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong e o autor principal do estudo que detalha essa descoberta, disse que o estudo prova que a imunidade para a infecção por COVID não dura toda a vida.
Na verdade, a reinfecção pode ocorrer muito rapidamente.
Mutações do vírus
Para descobrir se o homem havia sofrido alguma recaída ou havia sido infectado novamente, To e sua equipe sequenciaram as duas cepas de vírus e compararam seus genomas, ou código genético.
Assim, as duas assinaturas virais eram “completamente diferentes” e pertenciam a diferentes linhagens de coronavírus.
Logo, To concluiu que “o vírus sofre mutações o tempo todo” e é muito improvável que o paciente tenha contraído o segundo vírus durante a primeira infecção ainda.
Esta é certamente uma evidência mais forte de reinfecção do que alguns relatórios anteriores, porque usa a sequência do genoma do vírus para separar as duas infecções, disse Jeffrey Barret, consultor científico sênior do Projeto Genoma COVID-19 no Instituto Welcome Sanger, que comenta o estudo.
Principais incógnitas sobre o coronavírus
O virologista Bieniasz relata que as principais incógnitas sobre o coronavírus são a frequência com que a reinfecção ocorre e em que medida.
Se as reinfecções forem relativamente comuns, isso pode dificultar o alcance da imunidade coletiva, a proporção da população que precisa ser imune para proteger as outras pessoas.
Logo, os pacientes do COVID-19 não devem presumir, depois de se recuperarem, que não serão infectados novamente, disse Kelvin Kai-Wang To.
Por isso, o aconselhamento é que mesmo quem se recuperou do vírus deve praticar o distanciamento social, usar máscaras e lavar as mãos.
E o ideal é, ao aparecerem sintomas suspeitos, que a pessoa seja testada.
Ou seja, esse estudo sugere que as infecções anteriores não são protetoras.
O microbiologista To também ressalta que os cientistas que desenvolvem vacinas devem olhar não apenas para a resposta imunológica, mas para a duração da proteção contra infecções.