Superespalhadores por trás do maior número de pessoas infectadas com o Coronavírus

Erik Behenck
Pesquisa indica que 20% dos contaminados podem espalhar a doença com mais rapidez

Novas pesquisas preliminares indicam que 70% das pessoas infectadas com Coronavírus não a transmitem. Por outro lado, a principal forma de contaminação é por meio dos chamados eventos superespalhadores, onde uma pessoa é capaz de infectar um número enorme de indivíduos.

Um estudo preliminar desenvolvido por cientistas de Hong Kong indica que somente 20% dos portadores de Coronavírus estudados eram responsáveis por 80% das novas contaminações. Além disso, identificaram que 70% das pessoas com o vírus não transmitem para ninguém. Assim, os principais eventos de disseminação consistiam em reuniões sociais.

Nem todas as pessoas infectadas com Coronavírus transmitem a doença

A pesquisa ainda não passou pela chamada revisão por pares, ela foi publicada em uma versão pré-impressa. Dessa maneira, são necessários mais trabalhos para confirmar os resultados. Mas, isso já pode influenciar nas medidas tomadas pelos governantes, para manter as pessoas seguras.

“Os eventos de superespalhamento estão acontecendo mais do que esperávamos, mais do que o que poderia ser explicado pelo acaso. A frequência do superespalhamento está além do que poderíamos ter imaginado”, disse um dos coautores do estudo, Ben Cowling.

Ainda segundo Cowling, a partir disso é possível pensar em maneiras para evitar a superespalhação, fazendo com que um número grande de pessoas ficasse protegido.

Muitas contaminações em um mesmo evento

Em diferentes partes do mundo, foram criados grupos de infecções por Coronavírus, fazendo com que o número de casos disparasse de uma hora para outra.

Um destes casos aconteceu na Coreia do Sul, onde um fiel de uma igreja contaminou 43 outras pessoas, em fevereiro. Já em março, um cantor infectou 53 pessoas em um coral em Washington. Além disso, o jogo de futebol entre Atalanta x Valência, pela Liga dos Campeões, foi um grande disseminador da doença.

Cowling e seus colegas examinaram mais de 1.000 casos durante a pesquisa, todos de Hong Kong, entre 23 de janeiro e 28 de abril. Assim, descobriram que pessoas infectadas com Coronavírus dificilmente contaminam outras. Dessa forma, 350 dos casos analisados foram resultados da disseminação em comunidade e o restante importado de outros países.

Em relação as transmissões na comunidade, mais da metade foram originados nos tais eventos de supertransmissão. Aliás, o termo “superespalhador” é referente a uma pessoa infectada que transmite o vírus para mais indivíduos do que uma pessoa normal espalha. Até o momento, uma pessoa contaminada transmite o Coronavírus para uma média entre 2 e 2,5 pessoas.

Em um evento de supercontaminação, uma pessoa infecta três vezes mais do que isso, ou seja, entre 6 e 7,5 pessoas, no mínimo. Levando isso em consideração, 20% dos casos causaram 80% das transmissões.

Apesar de ser preliminar, algumas descobertas apoiam o estudo. Uma pesquisa de 2011 descobriu que 20% de uma população era responsável por 80% das transmissões de muitas doenças, incluindo da malária. Na ciência, isso é conhecido como a “regra 80-20”.

A pesquisa poderia ajudar os governos

Se poucas pessoas infectadas com Coronavírus possuem a capacidade de transmitirem a doença, os bloqueios poderiam ser revistos. Assim, países como Japão e Coreia do Sul mostraram ser possível enfrentar o surto sem restringir dramaticamente os movimentos dos cidadãos.

No futuro, quem sabe os países possam visar a fonte de boa parte das transmissões, rastreando e com testes de contatos contínuos. Por fim, o pesquisador acredita que as atividades ao ar livre são as menos afetadas, já restaurantes ou igrejas podem funcionar com capacidade reduzida.

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