Identificados pela primeira vez, somente neste século, os vírus gigantes são tão grandes que podem até ser confundidos com bactérias, e o tamanho e a complexidade de seus genomas parecem não ter fim.
Algumas destas cepas gigantes podem até mesmo modificar seu código genético, outros possuem código genético que nunca encontramos antes. Como é o caso do Yaravirus brasiliensis, descoberto em 2017, na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, pelo virologista Jônatas Abrahão. Este organismo é tão pequeno que pode infectar amebas. Mas o que chama mais atenção nele é o fato de que cerca de 90% de seu genoma e proteínas nunca foram descritos anteriormente. Somente seis genes encontrados apresentavam uma semelhança distante com genes virais conhecidos, documentados em bancos de dados científicos públicos. Além disso, o Yaravírus possui genomas mais complexos, o que lhe dá a capacidade de sintetizar proteínas e, portanto, fazer reparos em seu DNA.
Os vírus gigantes impressionam cada vez mais
Em um novo estudo, pesquisadores realizaram uma análise da diversidade viral, examinando bancos de dados de metagenoma disponíveis publicamente, contendo um conjunto de códigos genéticos, a partir dos quais eles reuniram genomas putativos para 501 tipos diferentes de vírus gigantes na ordem proposta de grandes vírus nucleocitoplasmáticos de DNA (NCLDVs) ), principalmente de ambientes aquáticos (onde infectam principalmente algas).
Durante o estudo, os pesquisadores não somente encontraram os genes esperados para processos como construção de capsídeos e infectividade viral, como também descobriram que vírus gigantes abrigam uma enorme diversidade de genes envolvidos em aspectos do metabolismo celular, incluindo processos como captação de nutrientes, colheita leve e metabolismo de nitrogênio.
Genes metabólicos já foram identificados em vírus antes, mas isso é algo totalmente diferente, dizem os pesquisadores.
Pesquisas anteriores em NCLDVs descobriram genes que se pensa serem adquiridos da vida celular através da transferência lateral de genes. No contexto viral, isso sugere que vírus podem, ocasionalmente, adquirir genes de hospedeiros infectados.
Aqui, no entanto, a equipe encontrou linhagens evolutivas de genes metabólicos virais que foram muito mais profundos, sugerindo relações duradouras entre patógenos e hospedeiros, cujo significado simbiótico ainda não se pode desvendar completamente.
Em outras palavras, vírus gigantes e seus ancestrais podem ter vivido ao lado de organismos celulares por eras. Não somente replicando dentro das células de seres vivos, como exercendo uma influência invisível em seus processos metabólicos todo esse tempo.
O estudo foi publicado na revista Nature Comunication, clique aqui para acessá-lo.