Por que o Pentágono está tão interessado nos OVNIs?

The Conversation

Os pilotos e marinheiros dos EUA não serão considerados loucos por reportar objetos voadores não identificados, sob novas regras destinadas a encorajá-los a acompanhar o que veem. No entanto, apenas alguns anos atrás, o Pentágono supostamente encerrou seu programa oficial que investigava avistamentos de OVNIs. O que mudou? O exército dos EUA finalmente está se convencendo de que naves espaciais alienígenas estão visitando nosso planeta?

A resposta a essa pergunta é, certamente, não. A má interpretação dos seres humanos das observações dos fenômenos naturais é tão antiga quanto o tempo e inclui exemplos como os peixes-boi sendo vistos como sereias e troncos em um lago escocês sendo interpretado como um monstro. Um exemplo mais recente e relevante é a estranha estrutura luminescente no céu causada por um lançamento de foguete da SpaceX. Nesses tipos de casos, interpretações incorretas ocorrem porque as pessoas têm informações incompletas ou entendem mal o que estão vendo.

Com base em minha experiência anterior como consultor científico da Força Aérea, acredito que o Pentágono quer evitar esse tipo de confusão, por isso precisa entender melhor os objetos voadores que não consegue identificar. Durante uma missão militar, seja em paz ou em guerra, se um piloto ou soldado não consegue identificar um objeto, ele tem um problema sério: como reagir, sem saber se é neutro, amistoso ou ameaçador? Felizmente, os militares podem usar tecnologias avançadas para tentar identificar coisas estranhas no céu.

Retirando o ‘N’ de OVNI

“Consciência situacional” é o termo militar para se ter uma compreensão completa do ambiente em que você está operando. Um OVNI representa uma lacuna na consciência situacional. No momento, quando um piloto da marinha vê algo estranho durante o voo, a única coisa que ele pode fazer é perguntar a outros pilotos e ao controle de tráfego aéreo o que eles viram naquele lugar e naquele momento. Globalmente, o número de relatórios de OVNIs em um ano atingiu um pico de mais de 8.000. Não se sabe quantas experiências militares.

Mesmo os incidentes mais documentados acabam não sendo resolvidos, apesar de entrevistar dezenas de testemunhas e revisar muitos documentos escritos, bem como muitas gravações de áudio e vídeo.

OVNIs representam uma oportunidade para os militares melhorarem seus processos de identificação. Pelo menos parte desse trabalho poderia ser feito no futuro por sistemas automatizados e, potencialmente, em tempo real, à medida que um incidente se desdobra. Veículos militares — Humvees, encouraçados, aviões e satélites — estão cobertos de sensores. Não são apenas dispositivos passivos, como receptores de rádio, câmeras de vídeo e imagens infravermelhas, mas sistemas ativos como radar, sonar e lidar. Além disso, um veículo militar raramente está sozinho — os veículos viajam em comboios, navegam em frotas e voam em formações. E, bem a cima deles, há satélites assistindo suas locomoções.

Uma foto completa

Os sensores podem fornecer uma riqueza de informações sobre OVNIs, incluindo alcance, velocidade, rumo, forma, tamanho e temperatura. Com tantos sensores e tantos dados, no entanto, é um desafio mesclar as informações em algo útil. No entanto, os militares estão intensificando seu trabalho em autonomia e inteligência artificial. Uma possível utilização dessas novas tecnologias poderia ser combiná-las para analisar todos os muitos sinais à medida que chegam dos sensores, separando quaisquer observações que não possam identificar. Nesses casos, o sistema pode até mesmo atribuir sensores em veículos próximos ou satélites em órbita para coletar informações adicionais em tempo real. Então, poderia montar uma imagem ainda mais completa.

No momento, porém, as pessoas precisarão avaliar o que todos os dados revelam. Isso porque um dos principais desafios para qualquer uso bem-sucedido da inteligência artificial é construir confiança no sistema. Por exemplo, em um experimento famoso de cientistas do Google, um algoritmo avançado de reconhecimento de imagem baseado em inteligência artificial se enganou ao identificar erroneamente uma foto de um panda com a de um gibão simplesmente distorcendo um pequeno número dos pixels originais.

Então, até que os humanos compreendam melhor os OVNIs, não poderemos ensinar aos computadores sobre eles. Na minha opinião, a nova abordagem da Marinha para relatar encontros com OVNIs é um primeiro passo bom. Isso pode eventualmente levar a uma abordagem abrangente e totalmente integrada para a identificação de objetos envolvendo a fusão de dados de muitos sensores através da aplicação de inteligência artificial e autonomia. Só a partir daí haverá menos OVNIs no céu — porque eles deixarão de ser não identificados.

Iain Boyd é professor de Engenharia Aeroespacial na Universidade de Michigan.

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