Algumas espécies de lagarto podem perder a cauda, se necessário. Se o rabo do animal fica preso, o tecido se destaca, permitindo que o lagarto fuja perdendo “apenas” o rabo. A maioria dos animais, contudo, não consegue regenerar órgãos e membros. E isso pode ter uma razão genética.
De acordo com uma pesquisa publicada no periódico Science, a regeneração de tecidos e membros pode estar ligada principalmente a um gene. Esse gene, chamado inhibin beta A, aparentemente influencia a regeneração da cauda em peixes comumente conhecidos como kilifish.
Pesquisadores descobriram isso silenciando promotores do gene inhibin beta A nos kilifihsh bem como em zebrafish. Estes últimos são organismos-modelo para pesquisas e os dois animais apresentam em torno de 230 milhões de anos de evolução desde seu último ancestral comum.
Assim, tanto o zebrafish quanto kilifish podem regenerar partes da cauda quando ela é arrancada por um predador. Ainda, estes animais podem regenerar partes danificadas do tecido cardíaco.
Quando os pesquisadores silenciaram o promotor do gene inhibin beta A, contudo, a capacidade de reestruturação dos tecidos destes peixes desapareceu. Ou seja, tal gene provavelmente tem uma relação direta na habilidade de regenerar a cauda e o coração.
Este gene, aliás, está presente em mamíferos, apesar de ter diferenças significativas. Em mamíferos o inhibin beta A está relacionado à cicatrização, mas não tem efeito regenerativo.
Como a habilidade de regenerar órgãos se perdeu?
Alguns poucos tecidos em mamíferos podem se regenerar. O fígado, por exemplo, é o único órgão humano que tem de fato essa capacidade. Nas aves, esse tipo de característica também é bastante rara.
Contudo, para peixes, anfíbios e répteis, a regeneração é bastante comum em algumas espécies. Certas salamandras podem recuperar pernas inteiras perdidas.
Por esse motivo, aliás, pesquisadores escolheram os kilifish para estudar as hipóteses da pesquisa. Normalmente os ratos de laboratório serviriam como comparação aos tradicionais zebrafish. Contudo, ratos e peixes se separaram evolutivamente há mais de 400 milhões de anos.
Ou seja, a distância evolutiva entre os dois peixes é muito menor e, portanto, isso torna mais fácil o estudo das características e diferenças genéticas entre os dois animais.
Outros animais ainda mais primitivos, como esponjas e hidras podem formar dois animais distintos quando seu corpo é quebrado ao meio. Por isso, inclusive, alguns destes animais são os bichos mais longevos do planeta.
Como o autor da pesquisa, Wei Wang afirma no vídeo acima, o papel do inhibin beta A pode ser essencial para novas tecnologias biomédicas que devem surgir nas próximas décadas. Justamente pela regeneração de órgãos em humanos ser tão difícil, muitos pesquisadores estão de olho neste tipo de descoberta.
É possível que, em algum momento em um futuro não tão distante, médicos e pesquisadores sejam capazes de recuperar um coração ou um pulmão usando técnicas seguras e não-invasivas. Talvez isso venha até mesmo a aumentar ainda mais a expectativa de vida humana e proporcionar curas para doenças como o Alzheimer.
Tudo isso, todavia, é especulação por enquanto. Mas tudo indica que esses pequenos peixes podem nos ajudar a chegar lá.
A pesquisa está disponível no periódico Science.