A carne Wagyu é de longe um dos cortes mais caros do mundo, podendo passar dos R$450 por kg. Essa carne, portanto, é o modelo que pesquisadores japoneses usaram para criar um bife feito completamente em laboratório, com auxílio de uma bioimpressora 3D.
A demanda por carnes vermelhas ainda é bastante alta, apesar de diversos movimentos de redução de consumo destes alimentos. Isso é um ponto relevante para as próximas décadas porque só nos Estados Unidos, em torno de 15% dos gases estufa vêm da criação de gado. No Japão, ademais, a carne Wagyu criou mais de US$268 milhões de lucro em 2019.
Acontece que a grande maioria dos consumidores não está disposta – ou não tem opções – a largar a carne bovina. Pensando nisso, equipes de pesquisadores estão buscando criar o bife perfeito, com todas as características da carne tradicional, mas criado de forma sustentável e sem sofrimento.
Assim, como mostra a pesquisa publicada no periódico Nature Communications, um grupo de cientistas japoneses utilizou células-tronco bovinas para moldar a carne Wagyu sintética. A equipe seguiu, então, três passos para criar o bife sintético. Primeiramente, os pesquisadores coletaram dois tipos de células-tronco de uma das quatro espécies de gado que produzem a carne Wagyu.
Essas células (células-satélite bovinas e células-tronco bovinas derivadas de adiposo), por conseguinte, precisariam de um molde para se desenvolver. Então, no segundo passo da pesquisa, os autores desenvolveram um gel capaz de sustentar as células e fornecer o molde para a carne Wagyu.
Por fim, as células passaram por uma diferenciação a diversos tipos celulares, como músculos, gordura e vasos sanguíneos. Essas últimas foram impressas no gel formando fibras e criando uma estrutura em bloco de 5m por 10mm, o primeiro bife de carne Wagyu sintético do planeta.
Próximos passos para a carne Wagyu sintética
Apesar de os pesquisadores terem buscado seguir todas as porcentagens de gordura e carne que haveriam em uma carne tradicional, por enquanto ninguém irá saber o gosto desse bife sintético. Isso porque ainda mal há regulação para carnes feitas em laboratório ao redor do mundo.
Portanto, assim como afirma a pesquisa, talvez sejam necessárias ainda algumas décadas até que a carne sintética de fato chegue às prateleiras do supermercado a um preço acessível. Todavia, já temos os primeiros passos em direção a uma tecnologia que pode revolucionar a culinária e de quebra nocautear a mudança climática.
No começo deste ano, ademais, uma equipe de pesquisadores de Israel criaram um lombo sintético usando tecnologias semelhantes. Diversas startups, incluindo do Vale do Silício, também estão de olho na produção sintética de carne. Isso não apenas pela sustentabilidade, mas como qualquer outra tecnologia, a produção de carne sintética tende a ficar mais barata com os anos.
Assim, exemplos de carnes caras como a carne Wagyu podem também ficar bem mais acessíveis ao público geral.