Em 2002, pesquisadores descobriram um conjunto de mais de 50 pegadas fossilizadas na Ilha de Creta, na Grécia. Agora um estudo das marcas as coloca como as mais antigas pegadas pré-humanas conhecidas, datando de 6,05 milhões de anos de idade.
Como a palavra “pré-humana” indica, as pegadas provavelmente foram feitas por primatas muito mais antigos do que a espécie humana que conhecemos hoje. Os primeiros Homo sapiens, vale ressaltar, só foram surgir no registro fóssil há mais ou menos 300.000 anos.
Ainda assim, essas pegadas fossilizadas e extremamente antigas podem fornecer informações preciosas sobre o início do surgimento da nossa espécie. Além do mais, as marcas podem fornecer alguns panoramas sobre a migração de mamíferos e primatas para a Europa e para o próprio continente africano.
Analisando as marcas, pesquisadores puderam achar alguns ancestrais candidatos para sua autoria, ademais. O Graecopithecus freyberg, por exemmplo, é um dos hominídeos antigos que podem ter eternizado seus pés na areia de uma praia – que se fossilizou posteriormente para que a encontrássemos.
“As marcas são quase 2,5 milhões de anos mais velhas que as marcas atribuídas ao Australopithecus afarensis (Lucy) de Laetoli na Tanzânia,” afirma o coautor Uwe Kirscher em uma declaração.
“O pé humano mais velho usado para caminhada ereta tinha uma bola com um dedão paralelo forte, e sucessivos dedos laterais mais curtos,” completa Per Ahlberg, também co-autor da pesquisa publicada no periódico Scientific Reports. “O pé tinha uma sola menor que o Australopithecus. Um arco ainda não era pronunciado e o calcanhar era mais estreito.”
Origem da espécie humana em dúvida devido às pegadas
Após a descoberta de fósseis de Australopithecus afarensis na África há algumas décadas, essas evidências moldaram boa parte do que se pensa sobre a evolução humana. A partir destas linhagens de Australopithecus viventes da África, novas espécies acabaram se desenvolvendo e eventualmente dando origem aos humanos modernos, que migraram para a Europa e depois para o resto do planeta.
Muito se fala sobre hominídeos bípedes devido à transição de ambientes pela qual os primatas passaram. Grandes macacos passaram por uma mudança da vida em árvores para a vida no solo, dando origem aos humanos que conhecemos. As marcas dessa diferenciação podem também ficar registradas em pegadas, pelo formato dos pés.
Contudo, estas pegadas de hominídeos sugerem (junto a outras evidências), como dito antes, uma migração de mamíferos da Europa para a África há mais ou menos 6 milhões de anos.
De acordo com uma hipótese conhecida como “Balanço do Deserto”, nesse período a Mesopotâmia e o Saara passaram por um período de seca extrema que levou à migração de muitos mamíferos da Eurásia para a África. Dentre estes mamíferos estavam possivelmente alguns hominídeos, incluindo aqueles que deixaram estas pegadas.
Contudo, especialistas afirmam que as evidências ainda são muito preliminares para conclusões do tipo. Algumas pegadas, por exemplo, não aparentam claramente ter pertencido a hominídeos bípedes necessariamente.
A pesquisa está disponível no periódico Scientific Reports.