Uma nova pesquisa aponta que as aves são mais coloridas próximas à linha do equador, algo que ainda não tinha uma confirmação científica.
Quando vemos imagens de florestas tropicais – a Floresta Amazônica, por exemplo – onde podemos encontrar araras grasnando pelas árvores e sapos brilhantes cantando entre as folhas, é normal conjecturar que esses lugares são bem coloridos.
Contudo, para os cientistas, quantificar o quão coloridas são as espécies tropicais tem sido, estranhamente, algo difícil até então.
Agora, após tirar cerca de 140.000 fotos de quase 24.000 aves, os resultados dessa nova pesquisa são claros: os passeriformes que vivem próximo ao Equador são mais coloridos do que os que se encontram em maiores latitudes.
A nova pesquisa, publicada na Nature Ecology & Evolution, surpreendeu até os próprios pesquisadores, que não esperavam encontrar uma associação tão forte entre latitude e cor.
O Dr. Chris Cooney, da Universidade de Sheffield e autor principal do estudo diz que “esse trabalho revela o padrão amplo no qual as espécies de aves tendem a ser 30% mais coloridas no equador, e identifica algumas explicações gerais do porque esse padrão pode ocorrer”.
“Isso é empolgante porque nos ajuda a entender melhor os fatores promovendo e mantendo a biodiversidade numa escala global”.
As aves coloridos do Equador
Ainda não se sabe porque as aves nos trópicos são mais coloridas do que as que se encontram mais ao norte e sul.
Cooney e sua equipe sugerem algumas razões, como a natureza escura do interior das florestas tropicais, o que significa que é melhor que uma espécie seja colorida, e também que a complexidade estrutural desses ambientes levaria a uma complexidade estrutural de cores.
Quando pensamos nesses locais, especialmente a Floresta Amazônica, no nosso contexto, imaginamos flores chamativas, répteis marcantes e aves coloridas, correspondendo à realidade. E isso tem chamado atenção há séculos.
“Por séculos há essa ideia geral, essa noção de que animais e plantas tropicais são mais coloridos do que organismos que vivem fora dos trópicos, em climas frios, mais próximos às regiões polares”, explicou Cooney.
“Mas ainda que isso seja uma ideia bem disseminada e enraizada, não há muita evidência para sustentá-la, de uma perspectiva empírica”.
É difícil estudar esses padrões, pois há áreas geográficas imensas que requerem uma quantidade massiva de dados precisos para uma análise completa.
Ao longo dos anos, diversos estudos foram feitos acerca do assunto, mas eles costumavam usar amostras pequenas, de uma diversidade geral de animais e plantas.
Contudo, com esse novo foco em apenas um grupo de aves – os passeriformes – o estudo recente conseguiu olhar com mais profundidade do que jamais feito antes, analisando se a coloração aumenta a medida que as espécies se encontram mais próximas ao equador.
O estudo das cores nos trópicos
Um dos aspectos mais complicados de conduzir um estudo analisando a coloração de animais e plantas é a premissa básica: como medir cores?
De maneira geral, é fácil medir e comprar aspectos como tamanho do corpo, envergadura, comprimento dos membros e componentes morfológicos diversos. Contudo, a cor é algo mais abstrato, e inclui não apenas a tonalidade, mas o padrão, intensidade e distribuição.
“Por isso que é tão difícil de quantificar”, diz Cooney. “Há múltiplas dimensões de cor. Nós focamos especificamente na variação de matiz e saturação: a matiz é o tipo de cor, como azul ou vermelho, e a saturação é o quão azul ou vermelho a cor é”, referindo-se à intensidade.
Mas os pesquisadores também tiveram que analisar o espectro ultravioleta também, uma vez que aves enxergam cores que nós não enxergamos.
A equipe tirou cerca de 140.000 fotos de quase 24.000 aves representando 4.500 espécies, capturando imagens tanto na luz visível como ultravioleta. Eles demoraram três anos para tirar todas as fotos, e mais três para estudá-las.
Esse padrão, para Cooney, aponta que algo parecido pode ocorrer para flores, insetos e peixes.
“Os próximos passos são interrogar melhor as possíveis explicações para esse padrão”, diz Cooney. “Essas associações amplas podem nos apontar na direção correta de potenciais fatores que são importantes para explicar esses padrões, mas ainda há muito para se aprender precisamente sobre quais fatores ecológicos e evolucionários estão causando essa tendência”.