Fóssil intacto de ictiossaura grávida é encontrado no Chile

Dominic Albuquerque
Ilustração. Imagem: University of Manchester

Encontrar um fóssil intacto de ictiossauro é algo empolgante por si só. Agora imagine encontrar um fóssil não apenas intacto, mas cuja espécime era uma ictiossaura grávida e contendo embriões – foi exatamente com isso que paleontólogos no Chile se depararam.

O fóssil “é a única ictiossaura grávida que foi encontrada no planeta oriunda do período entre 129 e 139 milhões de anos atrás”, disse Judith Pardo-Pérez, pesquisadora do GAIA Antarctic Research Center na Universidade de Magallanes (UMAG). “Então isso é incrivelmente importante”.

Outros fósseis de ictiossauras grávidas já foram encontradas antes, mas o do Chile é o único com a sua idade, e o primeiro completo do país.

A ictiossaura grávida do Chile

Pardo-Pérez se deparou com o fóssil pela primeira vez em 2009, enquanto trabalhava na geleira Tyndall, na região da Patagônia no Chile. A ictiossaura grávida, cujo apelido é “Fiona” devido à sua coloração esverdeada do óxido preservado, demorou 13 anos para ser escavada devido à localização remota da região.

ictiossaura grávida
Arqueólogos reunidos em torno do fóssil da ictiossaura grávida. Imagem: Alejandra Zúñiga

Mas o esforço foi válido. A fêmea de quase 4 metros, que viveu no início do período Cretáceo, contém vários embriões. Os pesquisadores afirmam que isso vai fornecer uma ideia acerca do ciclo de vida dos ictiossauros.

“Nós podemos dizer, por exemplo, quantos embriões essa espécie poderia ter, e quão grandes eles eram ao nascer”, disse Erin Maxwell, uma especialista em ictiossauros de Stuttgart, Alemanha, que ajudou na escavação.

Pardo-Pérez, numa declaração, reforçou a afirmativa: “Com quatro metros de comprimento, completa, e com embriões em gestação, a escavação vai ajudar a fornecer informação sobre a espécie, sobre a paleobiologia do desenvolvimento embrionário e sobre uma doença que a afetou durante seu tempo de vida”.

Os ictiossauros, cujo nome traduzido significa “peixes-lagartos”, nadaram pelos mares antigo, entre 251 milhões e 95 milhões de anos atrás. O menor deles tinha pouco mais de 30cm, e o maior ultrapassava os 20 metros.

Na geleira Tyndall do Chile, onde os paleontólogos encontraram Fiona, há um verdadeiro cemitério de ictiossauros, contendo quase 100 fósseis.

tyndall glacier
A geleira Tyndall, no Chile, contém quase uma centena de fósseis de ictiossauros, mas sua localização remota dificulta o acesso e a extração dos restos. Imagem: Alejandra Zúñiga

“O fato de que esses ictiossauros incríveis estão tão preservados num ambiente extremo, revelado por uma geleira que está recuando, é algo incomum em qualquer outro lugar no mundo”, disse Dean Lomax, um paleontólogo da Universidade de Manchester que está trabalhando no estudo.

“O número considerável de ictiossauros encontrados na área, incluindo esqueletos completos de adultos, jovens e recém-nascidos, fornece uma janela única para o passado”.

Infelizmente, a localidade remota da região significa que os paleontólogos terão que deixar quase todos os fósseis de ictiossauros para trás. Acessar a geleira leva quase 10 horas a cavalo ou a pé, e escavar os fósseis é uma tarefa homérica.

“A rocha do afloramento é tão dura que não pode ser escavada com martelo, talhadeira e pincel, e tivemos que cortar, perfurar e quebrar blocos com ferramentas diamantadas e de alto calibre”, explicou Hector Ortiz, um dos escavadores.

Além disso, o fóssil de Fiona está tão intacto que os paleontólogos tiveram que remover centenas de quilos de rocha para mantê-la como uma só peça. Eles extraíram cinco blocos pesando cerca de 200 kg para manter os ossos juntos.

Seus restos, assim como os restos de outros 23 fósseis de ictiossauros, foram removidos por helicópteros. Contudo, os paleontólogos tiveram que deixar a maior parte dos fósseis para trás.

“Temos quase uma centena de ictiossauros no depósito de fósseis na geleira Tyndall, e a maioria deles, infelizmente, nunca serão escavados, devido a dificuldade de acesso, por estarem em áreas de risco (penhascos) e pela falta de fundos”, disse Pardo-Pérez numa declaração.

Isso dito, ela considera a descoberta e escavação de Fiona, assim como a exploração da região, como um sucesso absoluto.

“Os resultados da expedição atenderam todas as expectativas e até mais do que esperávamos”, disse ela.

Compartilhar