As bactérias super resistentes são um problema crescente para a saúde coletiva do planeta. Diversas pesquisas indicam que o uso amplo ou incorreto de antibióticos favorece o surgimento de super microrganismos tolerantes aos medicamentos. Todavia, um estudo mostra que ouriços europeus carregam bactérias resistentes há 200 anos.
O questionamento da pesquisa, publicada no periódico Nature, começou quando a pesquisadora Sophie Rasmussen, da Universidade de Oxford, resolveu realizar uma análise microbiológica de cadáveres de ouriços (coletados na Dinamarca para fins de pesquisa).
Dos ouriços analisados, a equipe de Rasmussen constatou que 61% dos animais carregava uma variante resistente de Staphylococcus aureus, uma bactéria que pode causar pneumonias e meningites em humanos. A cepa, nesse sentido, recebe o nome de MRSA, Staphylococcus aureus resistente à meticilina (do inglês).
A meticilina é, portanto, um tipo de antibiótico de pequeno espectro que pertence ao grupo das penicilinas. Agora, a nova pesquisa estudou novos ouriços, precisamente 276 animais de dez países europeus e da Nova Zelândia.
A partir de amostras de mucosas e pele dos ouriços, a equipe de pesquisadores identificou 16 variantes diferentes de MRSA. Comparando as características genéticas das variantes, ademais, os autores conseguiram identificar que três das variantes surgiram entre 130 a 200 anos atrás.
Ou seja, estas cepas eram resistentes a antibióticos muito antes do descobrimento e uso dos primeiros antibióticos na saúde humana. Mas como?
Como as bactérias super resistentes conseguiram essa característica
Apesar de existirem antibióticos artificiais, a maioria deles é produzida por organismos vivos. Alexander Fleming descobriu as penicilinas, por exemplo, em 1928, em placas de cultivo de fungos. Onde os fungos do gênero Penicillium cresciam, não havia bactérias. Assim, os fungos estavam produzindo algo que limitava o crescimento das bactérias. Fleming foi o descobridor do primeiro antibiótico.
Acontece que a equipe de cientistas identificou também um fungo na pele dos ouriços, o Trichophyton erinacei. Este fungo, além de causar uma micose em humanos, tem a capacidade de produzir a meticilina, antibiótico ao qual as bactérias super resistentes dos ouriços conseguem sobreviver.
Assim, é possível que a presença do fungo nos ouriços tenha criado um ambiente com concentrações variáveis de meticilina. Este ambiente pode então ter eliminado as S. aureus que eram sensíveis ao antibiótico, deixando vivas apenas aquelas que eram (aleatoriamente) resistentes àquele composto.
Deste modo, o processo que originou super infecções hospitalares já estava acontecendo na pele de ouriços pelo menos 50 anos antes de termos a mínima ideia do que era um antibiótico.