Cientistas norte-americanos acabaram de desenvolver um dispositivo neuroprotético capaz de transformar ondas cerebrais em frases completas, um grande feito para a ciência. A novidade foi testada em um homem paralisado, como relata um artigo científico publicado na última quinta-feira (15/07).
“Este é um marco tecnológico importante para uma pessoa que não consegue se comunicar naturalmente”, disse David Moses, engenheiro da Universidade da Califórnia em San Francisco e um dos principais autores do estudo no New England Journal of Medicine.
“Isso demonstra o potencial dessa abordagem para dar voz a pessoas com paralisia severa e perda de fala”. O aparelho, nomeado de BRAVO1, foi testado em um homem de 36 anos, que aos 20 sofreu derrame e desde então não consegue falar, mas sua função cognitiva permanece intacta.
Muitos motivos podem fazer com que as pessoas percam a capacidade de se comunicar por meio das palavras, mas as ondas cerebrais ainda funcionam. Há muitos anos, cientistas tentam encontrar um meio de desenvolver próteses de mobilidade que permitem aos usuários soletrar letras.
Com essa nova abordagem, que transforma ondas cerebrais em frases completas, a comunicação se torna mais eficiente, rápida e orgânica. Os pesquisadores da UCSF já haviam implantado eletrodos em pacientes com falas normais, durante cirurgias cerebrais, para decodificar os sinais que controlam o trato vocal.
Primeiro teste realizado em paciente com ondas cerebrais normais, mas limitação de fala
Mesmo apresentando resultados positivos, os profissionais envolvidos não tinham testado o conceito em um paciente sem a capacidade de falar. Contudo, esses eletrodos captam as ondas cerebrais e permitem a formação de palavras e, consequentemente, de frases completas.
Desde que o homem sofreu este problema irreversível, ele se comunica usando um ponteiro preso em um boné de beisebol, onde cutuca as letras em uma tela. Até então, os pesquisadores estão trabalhando no desenvolvimento de 50 palavras ‘essenciais’ de uso diário, como ‘água’, ‘família’, ‘bom’, dentre outras.
Em primeiro lugar, uma equipe médica implantou o eletrodo cirurgicamente no rapaz e logo os testes começaram. Os envolvidos fizeram perguntas como “Você gostaria de um pouco de água?”, ao qual ele foi capaz de responder “Não, não estou com sede”.
“Até onde sabemos, esta é a primeira demonstração bem-sucedida de decodificação direta de palavras completas da atividade cerebral de alguém que está paralisado e não pode falar”, disse o neurocirurgião Edward Chang, co-autor. Um editorial saudou o projeto como “um feito na neuroengenharia”, afinal, não é sempre que vemos ondas cerebrais se transformarem em palavras.