O soldado japonês Shoichi Yokoi, para evitar a vergonha de ser capturado, se escondeu nas selvas de Guam até janeiro de 1972. Quanto o sargento retornou ao seu país de origem pela primeira vez em quase três décadas, sua reação foi: “É com muito constrangimento que retorno”.
O soldado que esperou
O soldado então com 56 anos passou 27 deles sobrevivendo furtivamente nas selvas de Guam, local para onde fugiu a fim de evitar ser capturado depois da captura da ilha pelas forças americanas em agosto de 1944.
Segundo o historiador Robert Rogers, Yokoi fazia parte dos 5.000 soldados japoneses que recusaram se render aos Aliados depois da Batalha de Guam. Desse modo, eles preferiram viver em fuga do que passarem a vergonha de se entregarem ao inimigo e se tornarem prisioneiros de guerra.
Apesar dos Aliados terem conseguido capturar ou matar a maior parte desses resistentes, mais de 130 ficaram escondidos até o fim da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1945.
Yokoi não voltou à sociedade por vontade própria, pois, na verdade, ele foi dominado por dois pescadores locais em janeiro de 1972. Em vista disso, ele é o exemplo perfeito da extremo da ênfase da filosofia Bushidō japonesa em honra e auto-sacrifício.
“Ele era o epítome dos valores pré-guerra de diligência, lealdade ao imperador e ganbaru , uma palavra japonesa onipresente que significa, grosso modo, perseverar tenazmente em tempos difíceis”, escreveu Nicholas D. Kristof para o New York Times em 1997, quando Yokoi morreu de um ataque cardíaco aos 82 anos. Ao retornar ao Japão, “ele provocou uma ampla reflexão sobre se ele representava os melhores impulsos do espírito nacional ou os mais tolos”.
A vida em fuga
O soldado nasceu na província de Aichi, no Japão, em 1915. Yokoi era alfaiate antes de sua convocação para o Exército Imperial Japonês em 1941. De acordo com o site Wanpela.com, que mantém um registro dos soldados japoneses da Segunda Guerra Mundial, Yokoi ficou na China até fevereiro de 1943, quando foi transferido para Guam.
Após os americanos quase aniquilarem seu regimento no verão de 1944, ele e um grupo de nove ou dez camaradas fugiram para a selva.
“Desde o início, eles tomaram muito cuidado para não serem detectados, apagando suas pegadas enquanto se moviam pela vegetação rasteira”, disse o sobrinho de Yokoi, Omi Hatashin, à BBC News ‘ Mike Lanchin em 2012.
No início eles comiam o gado local. Contudo, com a probabilidade de descoberta aumentando, eles fugiram para os lugares mais remotos da ilha e tinham como comida cocos, mamão, camarão, rãs, sapos, enguias e ratos.
Yokoi usou suas habilidades de alfaiate para tecer roupas com casca de árvore e marcou a passagem do tempo observando as fases da lua. Seus companheiros tiveram diferentes destinos, como alguns se renderam, outros foram vítimas dos soldados inimigos e uns morreram com o estilo de vida da mata.
Yokoi foi pego pelos pescadores porque tentou atacar os homens, que conseguiram o dominar facilmente por ele já estar enfraquecido, apesar de ter a saúde relativamente boa.
“Ele realmente entrou em pânico” depois de encontrar humanos pela primeira vez em anos, explica Hatashin à BBC News. “Ele temia que o levassem como prisioneiro de guerra – isso teria sido a maior vergonha para um soldado japonês e para sua família em casa.” Depois disso, as autoridades em Guam providenciaram para repatriá-lo para o Japão.
Yokoi voltou ao Japão em 1972, quando foi recebido como um herói por mais de 5.000 pessoas. “Voltei com o rifle que o imperador me deu”, disse ele ao New York Times ao retornar. “Lamento não poder servi-lo para minha satisfação.”