Há muito tempo já é noticiado que os recifes de coral estão em perigo. Mas um novo estudo publicado na revista One Earth quantifica as perdas de corais em todo o mundo. A análise aprofundada revela que metade dos recifes de coral foram perdidos desde os anos 50.
Os cientistas dizem que as mudanças climáticas, a sobrepesca e a poluição estão dizimando esses frágeis ecossistemas e colocando em risco as comunidades e a subsistência. O estudo ressalta o ritmo acelerado do colapso global dos corais.
“Os recifes de coral estão em declínio em todo o mundo – acho que isso é bastante aceito”, diz Tyler Eddy, um pesquisador da Memorial University of Newfoundland, coautor do estudo. “Nós não sabíamos a magnitude, quando olhamos em escala global, do quanto os recifes haviam desaparecido”.
Os recifes de coral são áreas de grande biodiversidade que fornecem habitat para os peixes, proteção para as comunidades costeiras e geram bilhões de dólares para a pesca e o turismo. Parte da razão pela qual os corais estão morrendo é que eles são muito sensíveis às mudanças na temperatura e acidez da água, diz a bióloga Mary Hagedorn.
“Os corais têm esqueletos, o que os faz parecer pedras”, diz Hagedorn, mas eles são animais com parceiros simbióticos. Os pólipos de coral dependem de algas coloridas, chamadas zooxantelas, que vivem em seus tecidos e produzem o alimento que os corais precisam para sobreviver.
Quando os pólipos são estressados por mudanças na luz, temperatura da água ou acidez, eles quebram essa relação simbiótica e expulsam as algas em um processo chamado branqueamento. Os corais têm um tempo curto para recuperar suas algas simbióticas, mas se os corais são estressados por muito tempo, sua morte é irreversível. “Não há um recife no planeta que não tenha sido tocado por algum aspecto desta ameaça global e local”, diz Hagedorn.
Avaliando os corais de forma global
A maioria das avaliações de corais se concentra em regiões ou recifes específicos, mas Eddy e seus colegas da Universidade de British Columbia queriam uma avaliação mais completa das perdas de corais.
Eles utilizaram uma combinação de bancos de dados contendo milhares de levantamentos da cobertura dos recifes de coral, registros de biodiversidade marinha e dados de captura pesqueira para avaliar como cada fator mudou ao longo do tempo. Eles focaram também como os corais que estão morrendo prestariam os serviços ecossistêmicos de um recife – inclusive fornecendo habitat para diversas espécies marinhas, protegendo a costa de tempestades e servindo como fonte de alimento e subsistência.
Além de descobrir que a metade dos corais vivos morreu desde os anos 50, os pesquisadores descobriram que a biodiversidade associada aos recifes de coral diminuiu em 63%. Recifes saudáveis sustentam milhares de corais, peixes e mamíferos marinhos, mas os recifes branqueados perdem sua capacidade de sustentar tantas espécies.
Os cientistas também descobriram que as capturas de peixes de recife de coral atingiram o pico em 2002 e têm diminuído desde então, apesar do aumento do esforço de pesca. A perda de espécies de corais não foi igual em todos os recifes, certos corais estão se mostrando mais sensíveis do que outros, levando alguns biólogos a se preocuparem que algumas espécies vulneráveis de corais serão extintas antes que possam ser documentadas ou preservadas.
Esforço global por informações
Um desafio que a equipe enfrentou foi encontrar informações detalhadas e precisas sobre a cobertura dos recifes nos anos 50. Em um trabalho anterior, os autores perguntaram a mais de cem cientistas qual teria sido a cobertura de recife de coral em um determinado ano, com base nas evidências existentes.
Eddy e seus colegas também documentaram o impacto da perda dos recifes de coral nas comunidades indígenas costeiras que têm estreitas relações culturais com os recifes. Essas comunidades perderam os serviços ecossistêmicos, incluindo os frutos do mar associados aos recifes dos quais dependem para grande parte de sua dieta.
A conexão entre as comunidades humanas e os recifes é uma peça particularmente importante deste estudo. Os recifes de coral desempenham esta função realmente importante no fornecimento de nutrientes vitais para as comunidades indígenas e comunidades locais, e se eles os perderem, isso pode levar a consequências graves.
O novo estudo não avaliou quais fatores levaram ao declínio dos corais nas últimas décadas, embora a pesca excessiva e a poluição proveniente da agricultura sejam fatores de estresse locais comuns. Eddy e outros especialistas em corais concordam que a maior ameaça aos recifes é a mudança climática, e observam que as regiões que contribuem menos para a mudança climática muitas vezes sentem os piores impactos.
A cada ano, o oceano absorve cerca de um quarto do dióxido de carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis e se torna mais quente, mais ácido e menos hospitaleiro para os corais. Este estudo mostra a importância de atuarmos agora na preservação dos recifes de coral.