O Grande Filtro – uma possível solução para o Paradoxo de Fermi

Felipe Miranda
Em 1996, Robin Hanson pensou nos motivos pelos quais ainda não encontramos outras civilizações inteligentes. Sua hipótese é O Grande Filtro. (Pixabay)

O Grande Filtro é triste. O universo é muito grande. Muito grande mesmo – possivelmente infinito. Por isso, são inúmeras as possibilidades de qualquer coisa ocorrer. Já catalogamos alguns milhares de exoplanetas. Mas com certeza existem pelo menos trilhões deles por aí. Portanto, por mais ínfimas as possibilidades de a vida inteligente se formar, pelo menos algumas dezenas de civilizações inteligentes apareceriam, estatisticamente falando.

No entanto, por mais que busquemos, nunca encontramos nenhuma civilização alienígena. É aí, então, que entra o Paradoxo de Fermi. Se o universo é tão grande e cria tantas possibilidades para a formação da vida, por que nunca encontramos evidência de outra civilização inteligente? Há algo que nos torna especial e somos únicos? Eles estão distantes de mais? Eles não querem se comunicar com a gente? Seja o que for, é extremamente deprimente pensar que em meio a essa imensidão, até onde sabemos nós estamos completamente sozinhos.

O físico italiano Enrico Fermi postulou o paradoxo há algumas décadas. Desde então, diversos cientistas e filósofos por todo o mundo tentam incansavelmente encontrar soluções para o problema. Mas é bastante complicado. Das inúmeras hipóteses propostas, nem sequer uma delas conseguiu uma confirmação. 

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Enrico Fermi. (Smithsonian Institution)

O Grande Filtro

Um dos nomes envolvidos nessas buscas é o pesquisador Robin Hanson que publicou alguns textos em que propõe algumas ideias para o Paradoxo de Fermi. Em 1996, Hanson publicou na internet um artigo intitulado “The Great Filter – Are We Almost Past It?” (‘O Grande Filtro – Estamos Quase Passando-o?’). A partir de então, a ideia do Grande Filtro se popularizou não só no meio acadêmico, mas na cultura pop.

O Grande Filtro, como o próprio nome sugere, propõe um filtro poderoso para explicar a falta de alienígenas. Esse filtro, que torna algum passo importante extremamente improvável, impediria uma civilização de se desenvolver a partir de determinado ponto. 

Mas não há algum ponto específico proposto. Por isso, Haanson trás alguns filtros, como o fato de um planeta precisa ter a capacidade de abrigar a vida; a vida precisa de meios para se desenvolver, como se desenvolveu na Terra; a vida precisa se reproduzir; as células precisam se tornar mais complexas; os organismos devem se tornar multicelulares; em algum momento a reprodução sexual deve surgir para aumentar a variabilidade genética; seres capazes de utilizar ferramentas devem surgir; esses seres devem criar tecnologias avançadas; as civilizações precisam explorar o espaço.

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(Waitbutwhy.com)

Já passamos por ele?

Claro que as hipóteses pensadas por Hanson são bastante antropocentristas. Só conhecemos a vida como existe na Terra – com células e tudo mais. Outras formas de vida poderiam aparecer, como a vida baseada em silício. Nesse caso, os alienígenas se pareceriam com pedras. É difícil pensarmos fora da Terra, por isso o Grande Filtro coloca um contexto muito próximo ao nosso.

Mas o ponto é: se há um Grande Filtro, ele explicaria porque estamos sozinhos no universo – porque ainda não encontramos ninguém. Talvez um dia encontremos, ou talvez nunca localizemos ninguém. Talvez as civilizações inteligentes se extinguam antes de explorar o universo de fato – e é o que estamos quase fazendo. Ou talvez o universo seja simplesmente grande de mais. Não sabemos. 

Além disso, há outro questionamento importante. Já passamos pelo Grande FIltro? Se já passamos, isso é uma boa notícia, afinal, quer dizer que ainda poderemos colonizar o espaço e descobrir muito sobre coisas que ainda nem ao menos fazemos a menor ideia. 

No entanto, se o Grande Filtro ainda estiver à nossa frente, estamos ferrados. Talvez sejamos nós que não cruzamos esse filtro, e isso significaria que há um grande desafio pela frente. O que é mais deprimente? Pensar que somos a única, ou uma das únicas civilizações a passar pelo Grande Filtro, ou pensar que ainda não passamos e a possibilidade de passá-lo é bastante pequena?

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