Cientistas que examinaram recentemente o órgão sugeriram que Chopin morreu de complicações devido à tuberculose.
De Brigit Katz para a Smithsonian Mag.com
Antes de morrer em 17 de outubro de 1849, Frédéric Chopin fez um pedido inusitado: queria que seu coração fosse removido de seu cadáver e transportado de Paris, onde o famoso compositor tinha vivido e trabalhado por quase vinte anos, para sua Polônia natal. A irmã de Chopin obedeceu, providenciando que o coração de seu irmão fosse preservado em um líquido alcoólico — possivelmente conhaque — e levado por ela mesma para a Polônia.
Em 2014, uma equipe de especialistas médicos recebeu permissão para remover o coração preservado de Chopin da Igreja da Santa Cruz, em Varsóvia, Polônia, onde finalmente foi enterrado, e o examinaram em busca de indícios que poderiam esclarecer a doença misteriosa que levou à morte de Chopin aos 39 anos de idade. Como Robin McKie relata para o The Guardian, a equipe publicou recentemente um artigo sugerindo que o compositor morreu de pericardite, uma complicação da tuberculose crônica.
A saúde de Chopin começou a falhar no final da década de 1830, tornando difícil para ele continuar compondo música. Ao longo dos anos, várias doenças foram apontadas como culpadas do declínio físico do compositor, de fibrose cística à deficiência de alfa-1-antitripsina, uma condição genética rara que eventualmente leva a doença pulmonar. Mas quando os pesquisadores observaram o coração embalsamado de Chopin, perceberam que estava coberto de materiais fibrosos brancos e pontilhado de lesões, o que pode indicar pericardite tuberculosa, uma rara complicação da tuberculose crônica que causa inflamação dos tecidos que cercam o coração. Os pesquisadores detalharam suas descobertas em um artigo publicado no The American Journal of Medicine.
A equipe não teve permissão para remover o coração de seu frasco, mas os autores do estudo, no entanto, afirmaram que podem dizer “com alta probabilidade, que Chopin sofria de tuberculose persistente como doença principal” e que a pericardite “poderia ter sido a causa imediata de sua morte”.
O novo estudo marca o último capítulo da longa e bastante dramática história pós-morte do coração de Chopin. O compositor, que já ficou famoso por seu temor de ser enterrado vivo, e que, antes de morrer, escreveu seu pedido final em uma folha de papel com os seguintes dizeres: “Como essa tosse me sufocará, imploro que você tenha o meu corpo aberto, para que não possa ser enterrado vivo”.
De acordo com um artigo de 2014 de Alex Ross do New Yorker, Ludwika Jędrzejewicz, a irmã mais velha de Chopin, contrabandeou o órgão das autoridades austríacas e russas a caminho da Polônia, escondendo o frasco que guardava o coração sob seu manto. A jarra foi posteriormente encerrada em uma urna de madeira e enterrada sob um monumento na Igreja da Santa Cruz.
No início do século 20, Chopin, como um dos filhos nativos mais famosos da Polônia, tornou-se foco de fervor nacionalista no país. Durante a era da Segunda Guerra Mundial, os ocupantes nazistas reconheceram o significado simbólico do legado de Chopin e procuraram proibir a execução de sua música. Mas seu coração foi removido da Santa Cruz e entregue ao oficial da S.S. Heinz Reinefarth, que afirmou admirar o compositor e que manteve o coração seguro na sede do partido nazista na Polônia. O órgão foi devolvido à Holy Cross em 1945, onde permaneceu até que funcionários da igreja e pesquisadores médicos entrassem em um acordo de colação, o que resultou na remoção do órgão.
O recente exame do coração de Chopin é improvável que afaste a discussão sobre a causa de sua morte. Como a Nature informa, o órgão nunca foi testado quanto à fibrose cística, outra possível causa proposta para a morte de Chopin. E alguns estudiosos lançaram dúvidas sobre se o coração pertencia mesmo a Chopin. Mas, por enquanto, a (possível) relíquia do compositor pode descansar sem ser perturbada. Os pesquisadores não serão autorizados a examinar o coração novamente por mais 50 anos.