Uma espécie de baleia recém-descoberta que vive apenas nas águas dos Estados Unidos já está à beira da extinção, de acordo com uma carta aberta assinada por mais de 100 cientistas marinhos.
O grupo internacional pede à administração Biden para tomar “ações significativas” para salvar a nova espécie, que foi identificada somente no último ano, e que possui apenas 50 indivíduos remanescentes.
A baleia-de-rice, também conhecida como a baleia do Golfo do México (Balaenoptera ricei), é uma baleia endêmica da região nordeste do Golfo do México, sendo a única espécie de cetáceo que vive exclusivamente em águas estadunidenses.
Foi em janeiro de 2021 que um estudo publicado na revista Marine Mammal Science analisou um espécime morto na praia, descobrindo que ele era diferente tanto morfológica como geneticamente das baleias-de-bryde, com as quais as baleias-de-rice tinham sido anteriormente associadas.
A nova espécie pode crescer até 12 metros de comprimento, e um dos repertórios vocais mais complexos de todas as espécies de baleia conhecidas.
Os pesquisadores estimam que há somente 51 baleias-de-rice vivas hoje. A população pequena está sob ameaça diante a indústria do petróleo e do gás, assim como o tráfego excessivo de embarcações.
A baleia está listada como criticamente ameaçada pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês) e também é protegida pela Lei de Espécies Ameaçadas dos EUA, bem como pela Lei de Proteção de Mamíferos Marinhos.
Agora, numa carta aberta para a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, publicada em 13 de outubro, um grupo de 101 especialistas de baleias de todo o mundo apelam ao governo estadunidense para fazer mais pela espécie antes que ela desapareça por completo.
Na carta, os pesquisadores apontam que as principais ameaças estão ligadas com a perfuração e exploração de combustíveis fósseis no Golfo do México.
Eles estimam que em 2010, o desastre na plataforma Deepwater Horizon – o maior derramamento de óleo marinho na história da humanidade, que liberou cerca de 416.000 toneladas de petróleo no Golfo doo México – foi responsável por matar em torno de 20% da população da baleia referida.
Os cientistas acreditam que as baleias sofrem devido à poluição sonora critada pelas pesquisas sísmicas, quando as companhias de combustíveis fósseis explodem no interior de colunas d’água com ondas sonoras em busca de detectar possíveis depósitos de petróleo e gás sob o assoalho oceânico.
Essas ondas sonoras podem perturbar a comunicação e os comportamentos de navegação e alimentação dos cetáceos, e até mesmo ensurdecer permanentemente alguns espécimes, escreveram os pesquisadores.
Na carta, os pesquisadores enfatizam que a administração Biden considera um novo programa de exploração offshore, o que poderia incluir novas pesquisas sísmicas, prejudiciais às baleias. Eles pedem ao governo que abandone esse programa imediatamente e que proíba pesquisas sísmicas na região.
Além de encerrar a exploração de petróleo e gás na área, os pesquisadores pediram limites de velocidade e rotas redirecionadas para empresas de navegação, e a realocação de fazendas de peixes, parques eólicos offshore e outros novos programas para fora do habitat das baleias. Os cientistas dizem que, se essas ações forem tomadas rapidamente, a espécie tem chance de sobreviver.
Contudo, mesmo que a administração Biden implemente as reformas, a espécie ainda enfrentaria um longo período de recuperação, segundo os cientistas, talvez precisando de décadas para um retorno à um nível saudável no número de indivíduos.