Em 1966, trabalhadores se depararam com uma pedra peculiar ao escavar um poço ao lado de um posto de gasolina, às margens da BR-050, na zona sul de Uberaba – MG. Análises mostraram que a pedra era, na verdade, um fóssil, e agora pesquisadores brasileiros o identificaram como uma nova espécie de mini crocodilo.
De acordo com a pesquisa, publicada no periódico Cretaceous Research, o mini crocodilo viveu na região de Uberaba há pelo menos 80 milhões de anos, atingindo em torno de 40 centímetros de comprimento. Ao contrário dos crocodilianos modernos, ademais, este pequeno réptil era completamente terrestre e tinha hábitos onívoros.
Todas estas informações, além de muitas outras, vieram da única parte do animal conservada no fóssil: uma parte inferior da mandíbula com a dentição incompleta. Analisando o fóssil entre 2017 e 2020, contudo, os pesquisadores descobriram que a espécie nunca antes fora registrada na formação geológica de Uberaba- e em nenhuma outra.
Assim, os pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), do Museu de Paleontologia “Pedro Candolo”, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP) descrevem o novo gênero e espécie do mini crocodilo mineiro: Eptalofosuchus viridi.
Originalmente, vale ressaltar, o fóssil pertenceu à Agência Nacional de Mineração, sendo doado posteriormente ao Museu de Ciências da Terra, no Rio de Janeiro. Os pesquisadores, portanto, emprestaram o fóssil do museu e o levaram para Uberaba para a realização da pesquisa. O fóssil, ademais, retornará ao museu agora, uma vez que é patrimônio tombado do país.
Fósseis além do mini crocodilo em Minas Gerais
A formação geológica da descoberta do mini crocodilo é a Formação Uberaba, de onde saem riquezas fósseis inestimáveis há mais de 70 anos. A maioria dos fósseis de Minas Gerais, contudo, vêm da Formação Serra da Galga, não tão antiga quanto a primeira. Assim, o Eptalofosuchus viridi é a primeira nova espécie descoberta em Uberaba.
O Brasil como um todo, aliás, possui diversas formações altamente ricas em fósseis e registros geológicos. Contudo, quantidades altíssimas destes fósseis são contrabandeadas antes de chegarem às mãos de pesquisadores brasileiros.
Como relatamos na última semana, aliás, o fóssil mais completo de um pterossauro brasileiro quase acabou vendido ilegalmente no exterior. Esse é, inclusive, apenas um dos exemplos de como patrimônios fósseis brasileiros acabam perdidos ou roubados.
Especialmente em Minas Gerais, além disso, muitas cidades e centros urbanos se ergueram próximos ou mesmo em cima de formações geológicas contendo fósseis de dinossauros brasileiros. Frequentemente obras civis, portanto, descobrem espécimes raros ou únicos, como é o caso do novo mini crocodilo.
Há 80 milhões de anos, os continentes estavam próximos da conformação que conhecemos hoje, apesar da Europa e Ásia se conectarem à América do Norte, e da América do Sul ter contato com a Antártida. O Brasil, nessa época, era lar de alguns dos maiores organismos do planeta, os titanossauros, bem como megaraptores e algumas outras espécies de crocodilos além do E. viridi.