Médico nazista e cruel, Josef Mengele viveu e morreu afogado no estado de São Paulo

Em 1961, Mengele foi morar em Nova Europa, a 318 km de São Paulo. Depois, em 1975, mudou de endereço e passou a viver em diversas cidades paulistas, como Caieiras, Diadema e Embu.

Daniela Marinho
Josef Mengele (segundo da esquerda para a direita). Imagem: Museu Memorial do Holocausto dos EUA

Frequentemente chamado de “Anjo da Morte”, Josef Mengele foi um médico nazista que se tornou conhecido pelas inúmeras atrocidades que cometeu durante experimentos médicos realizados no campo de concentração de Auschwitz no decorrer da Segunda Guerra Mundial.

Entre os experimentos cruéis, o médico nazista realizou tentativas de mudar a cor dos olhos dos prisioneiros injetando produtos químicos nas íris e amputações desnecessárias. Gêmeos, pessoas com deficiência e anões também eram usados como cobaias no pavilhão batizado de “zoológico”.

Além disso, Mengele testava os limites da resistência humana submetendo prisioneiros a temperaturas extremamente altas, como imergi-los em caldeirões de água fervente e injetava cimento líquido nos úteros das prisioneiras para observar os efeitos da esterilização forçada em grande escala.

Um médico monstruoso com inúmeros pseudônimos

Josef Mengele
Então superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Romeu Tuma analisa a ossada de Josef Mengele. Imagem: Ass. Nac. dos Delegados da Polícia Federal

O cabo da Polícia Militar, Espedito Dias Romão, estava prestes a encerrar seu turno e ir para casa quando recebeu uma chamada de emergência. Do outro lado da linha, alguém relatava a presença de um corpo na Praia da Enseada.

Quando chegou à praia por volta das quatro da tarde, ela estava deserta, exceto pelo corpo de um banhista morto e um casal de austríacos, Wolfram e Liselotte Bossert. “Não havia mais nada que eu pudesse fazer. Ele já havia sido retirado da água sem vida”, lembra Romão, hoje aposentado aos 72 anos.

“Acredito que tenha sido um mal súbito, mas não posso afirmar com certeza.” A documentação apresentada por Wolfram identificava o falecido como Wolfgang Gerhard, um austríaco de 54 anos.

Somente em 1985 Romão descobriu que Gerhard era um dos muitos pseudônimos usados por Josef Mengele, o infame médico nazista responsável por enviar milhares de prisioneiros à morte em campos de concentração. O verdadeiro Wolfgang Gerhard faleceu em 16 de dezembro de 1978 e foi enterrado em Graz, sua cidade natal na Áustria.

A lista de identidades falsas adotadas por Mengele é longa e inclui nomes como Fritz Ullmann, Helmut Gregor e Fausto Rindón. No Brasil, ele usou pelo menos dois: Peter Hochbichler e Wolfgang Gerhard.

“Nosso país nunca foi uma opção ideal para Mengele devido à presença de índios e negros. Na América do Sul, ele preferia a Argentina, onde havia muitos alemães e simpatizantes do nazismo, fazendo-o sentir-se em casa”, explica o jornalista e historiador Marcos Guterman, autor do livro Nazistas Entre Nós – A Trajetória dos Oficiais de Hitler Depois da Guerra (2016).

Suicídio, prisão ou tentativa de fuga

Quando a derrota na Segunda Guerra Mundial se tornou inevitável, os oficiais nazistas se viram diante de três opções: suicídio, prisão ou fuga. Em 17 de janeiro de 1945, com as tropas soviéticas a apenas dez dias de tomar Auschwitz, Josef Mengele escolheu a fuga. Sob o pseudônimo de Fritz Ullmann, ele passou quatro anos trabalhando em uma plantação de batatas no sul da Alemanha.

Em junho de 1949, Mengele mudou-se para a Argentina, onde assumiu uma nova identidade como Helmut Gregor. Quando a Alemanha solicitou sua extradição, ele fugiu para o Uruguai. Em 1959, mudou-se para o Paraguai e, dois anos depois, para o Brasil.

“Mengele vinha de uma família abastada. Na Argentina e no Paraguai, recebeu apoio de outros ex-oficiais nazistas. Chegou a ser proprietário de uma farmácia na Argentina, o que lhe proporcionou uma boa renda”, explica o jornalista e historiador Marcos Guterman.

Morte controversa

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Josef Mengele viveu em cidades de São Paulo por 17 anos

Mengele foi enterrado no cemitério de Nossa Senhora do Rosário, em Embu das Artes. Em maio de 1985, a polícia alemã interceptou cartas suspeitas enviadas pelos Bossert para Hans Sedlmeier, ex-funcionário da família Mengele, o que levou à descoberta de sua identidade pela polícia brasileira, sob a supervisão do delegado Romeu Tuma.

O corpo de Mengele foi exumado e analisado pela equipe do legista Daniel Romero Muñoz. Em julho de 1985, o laudo confirmou que os restos mortais eram de Mengele, resultado posteriormente corroborado por um exame de DNA realizado na Inglaterra.

No entanto, o historiador Henry Nekrycz, em seu livro Mengele – A Verdade Veio à Tona (1994), afirma que o corpo enterrado no Brasil em 1985 era de um sósia, não do médico nazista.

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