Marte sofreu violentas erupções vulcânicas que mudaram o clima

Jônatas Ribeiro
Imagem: NASA's Mars Exploration Program

Mercúrio, Vênus e Marte, além da própria Terra, sendo todos planetas rochosos do Sistema Solar, têm muitas semelhanças entre si. O que sabemos, contudo, é que também têm muitas diferenças. Mercúrio, por exemplo, tem tamanho e massa muito menores do que o nosso planeta. Além disso, registra de tempos em tempos temperaturas muito altas, devido à curta distância ao Sol. O No caso de Vênus, o tamanho é mais parecido com o do nosso planeta. Sua atmosfera, contudo, é densa, muito mais do que na Terra. E, apesar de estar mais distante do Sol do que Mercúrio, suas temperaturas são ainda mais altas do que nos períodos mais quentes do primeiro planeta do Sistema Solar. Ambientes, portanto, inóspitos demais para nós, humanos.

Marte, por sua vez, apesar de registrar grandes diferenças em tamanho, espessura da atmosfera e temperatura em relação a nós, é mais amigável à nossa presença. Pelo menos, por enquanto, na forma de sondas e robôs. Além disso, suas características geológicas são bastante comparáveis às da Terra. Vulcões, cânions e bacias sedimentares têm presença garantida no árido solo marciano. Evidências de atividade geológica também estão presentes nos outros planetas rochosos, é verdade. Em Marte, contudo, podemos observá-las de perto. A novidade da vez é a confirmação, ao menos no passado do planeta, de outra semelhança geológica conosco. Isto, é os extraordinários supervulcões.

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Imagem: Mercúrio: NASA/JHUAPL. Vênus: NASA/JPL-Caltech, Terra: NASA/Apollo 17. Marte: ESA/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA

Supervulcões e supererupções

Vulcões estão presentes em uma parte considerável da superfície terrestre. Há mais de 1500 que são ativos em potencial. Além disso, mais de 60, em média, tem eventos eruptivos a cada ano. Alguns, ainda, são bastante conhecidos e acabam sendo pontos turísticos locais. Por exemplo, o Monte Fuji, no Japão, e o Mauna Kea, no Havaí. Contudo, lembramos deles na ficção, muitas vezes, como vilões geológicos. Vemos explosões gigantescas jorrando lama, rochas e poeira para todos os lados. Ainda assim, há erupções e erupções. Por isso, os cientistas elaboraram uma escala para medir e classificar diferentes eventos. E, com isso, diferentes vulcões. O Índice de Explosividade Vulcânica (IEV), utilizado como padrão na área, tem valor máximo de 8. E é com esse valor que são classificados os supervulcões.

supervulcão de yellowstone
Imagem: Lorcel/Shutterstock

Milhares de quilômetros cúbicos de poeira, cinzas e fragmentos de matéria sendo arremessados violentamente na atmosfera. É assim que se parece a erupção de um supervulcão. Ou seja, estamos falando de um evento bastante destrutivo e perigoso. Sabe-se que podem até mesmo alterar o clima global. É importante notar, contudo, que o último evento registrado como IEV 8 foi há mais de 20 mil anos. Isto é, não é um período longo se comparado à idade da Terra. Porém, é bastante tempo em escala humana. Ainda assim, os cientistas monitoram esses colossos geológicos com muita atenção. Um bom exemplo é o supervulcão de Yellowstone. É o mais famoso deles e está localizado em meio ao parque nacional de mesmo nome nos EUA.

Marte em explosão

A existência de estruturas monstruosas como os supervulcões pode parecer uma peculiaridade da Terra. Contudo, poderia ser mais uma das semelhanças geológicas entre Marte e nosso planeta. É isso que confirma um estudo publicado na revista Geophysical Research Letters. Para contextualizar, já haviam sido observadas antes cinzas vulcânicas pela região de Arabia Terra, em Marte. A área é repleta de crateras largas e profundas. Os cientistas fizeram modelos de como as cinzas se dispersariam se essas mesmas crateras fossem, na verdade, caldeiras. Ou seja, estruturas de colapso que se encontram no topo de vulcões. Ou, no caso, supervulcões. Foram utilizadas, para comparar com os modelos, imagens de alta resolução da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA.

arabia terra
Imagem: NASA/JPL/Arizona State University, R. Luk

Os dados concordaram com a teoria. A equipe pôde traçar as cinzas depositadas a milhares de quilômetros das crateras. Verificaram também que os depósitos se afinam com a distância a partir da fonte. Ou seja, a ideia anterior de que Marte teria tido atividade supereruptiva por cerca de 500 milhões de anos no passado agora tem forte apoio nas observações. Essas erupções, jogando grandes quantidades de vapor, carbono e enxofre na atmosfera, devem ter também alterado o clima de Marte em outros tempos. Possivelmente, até mesmo bloqueando a luz do sol. Isto é, além de termos ganhado mais compreensão sobre a geologia de Marte, os climatologistas do planeta vermelho também têm mais informações para entender a sua atmosfera.

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